Pintura Neoclássica | Jacques-Louis David | M7

1787-A morte de Sócrates




Jacques-Louis David pintor oficial da corte de Napoleão Bonaparte.
1794- Auto retrato
Jacques-Louis David nasceu de uma próspera família parisiense. Quando tinha nove anos seu pai foi morto em duelo e sua mãe entregou-o aos cuidados dos seus tios abastados, que providenciaram para que ele tivesse uma educação primorosa, mas ele jamais foi um bom aluno - sofria de um tumor na face que afectava a fala e passava o tempo a desenhar. Desejava ser pintor, contrariando os planos de sua mãe e tios, que o queriam um arquitecto. Vencendo a oposição, buscou tornar-se aluno de Francois Boucher seguidor do rococó e o principal pintor de sua geração, que era também seu parente distante. Mas Boucher, em vez de o aceitar como discípulo, enviou-o para aprender com Joseph-Marie Vien, um artista que já trabalhava numa linha classicista, e o jovem ingressou então na Academia Real. Foi para Itália, estudar na academia de Roma. Lá executou inúmeros desenhos e esboços das ruínas da cidade histórica, material que o proveu de inspiração para as arquitecturas de suas telas ao longo de toda a vida. Estudando os antigos mestres, sentia uma predilecção por Rafael Sânzio, e ao visitar Pompeia ficou maravilhado. Depois destas impressões tão fortes decidiu adoptar nas suas obras, um estilo de acordo com os conceitos do classicismo.
Sua convivência com os colegas na Academia não era fácil, mas em geral era-lhe reconhecido o génio. Depois de cinco anos na capital italiana voltou a Paris, onde teve uma recepção calorosa, que lhe abriu as portas da Academia Real, para onde enviou duas pinturas de admissão, ambas incluídas no Salão de 1781, uma honrosa excepção aos critérios rígidos que norteavam o concurso. Seu sucesso precoce rendeu-lhe a hostilidade de membros da administração da Academia, mas teve o favor real de poder instalar-se no Louvre, um privilégio concedido somente a grandes artistas. Ao mesmo tempo desposou Marguerite Charlotte, filha do administrador do palácio, casamento que lhe trouxe dinheiro e quatro filhos. Já com muitos alunos, recebeu a encomenda do rei para pintar Horácio defendido por seu pai, mas ele argumentou que só em Roma poderia pintar romanos, e conseguiu de seu padrinho os recursos necessários para a viagem.
O Juramento dos Horácios (1784)
 Novamente na cidade eterna, David pintou O Juramento dos Horácios (1784), uma de suas primeiras obras-primas, cuja novidade maior foi a clara caracterização dos papéis masculinos e femininos, seguindo preceitos de Rosseau e o elogio de ideais patrióticos republicanos, temas que continuaria a abordar por muito tempo. Apesar de seu tratamento linear e cerebral, conseguiu obter um grande efeito dramático. Ainda em Roma o pintor acalentou a ideia de tornar-se o director da secção da Academia Francesa naquela cidade, mas alegando-se a sua pouca idade, seu pleito foi recusado.
Sua próxima obra de vulto foi A Morte de Sócrates, exibida no Salão de 1787, que foi comparada a criações imortais de Michelangelo, qualificada de "absolutamente perfeita", obteve igualmente a aprovação real.
David apoiou a Revolução Francesa desde o início. Era amigo de Robespierre e membro do Clube dos Jacobinos. Enquanto outros deixavam o país em busca de novas oportunidades, David permaneceu para auxiliar na queda do antigo regime, votando pela morte do rei; de facto, na primeira Convenção Nacional que se reuniu, ele foi alcunhado de "terrorista feroz". Logo, porém, ele voltou sua crítica contra a Academia, possivelmente por causa da hipocrisia que sentia nos bastidores e da oposição que suas obras haviam sofrido no início de sua carreira. Seus ataques trouxeram-lhe ainda maiores inimizades, uma vez que a instituição era um refúgio dos realistas, mas com o aval da Assembleia Nacional ele planeou reformas na antiga escola segundo a nova constituição, passando a desempenhar um papel de propagandista da República tanto por sua actuação pública como através de suas pinturas.
A morte de Marat
 Momento marcante da Revolução que ele fixou em tela foi a Morte de Marat, um testemunho de sua filiação política e ao mesmo tempo uma obra-prima. Quando apresentou a tela na Convenção, disse: "Cidadãos, o povo novamente clamou por seu amigo; sua voz desolada foi ouvida: 'David, toma teus pincéis, vinga Marat!'… Eu ouvi a voz do povo, e obedeci". A obra foi um sucesso político imediato, e tornou-se também uma de suas criações mais bem-sucedidas - simples, directa, e poderosamente tocante - consagrando o retratado, agora um mártir cívico, e o autor no ambiente revolucionário, onde ele, como auxiliar de Robespierre no Comité de Segurança Geral, foi um dos mais ferventes promotores do Terror. A esta altura a França estava envolvida numa guerra com outras potências europeias, e aparentemente estava em vantagem. Assim o estado de emergência que havia suscitado o Comité de Segurança Geral deixou de existir. Conspiradores aproveitaram o momento e prenderam Robespierre. Apesar de manifestar seu apoio a ele, David não foi executado, apenas preso. 
A intervenção das Sabinas
 Na prisão fez um auto-retrato, mostrando-se muito mais jovem do que aparentava. Visitado por sua esposa na prisão, concebeu a ideia para uma nova obra, A intervenção das Sabinas, como um apelo pela reunião nacional e pela paz, depois de tanto sangue derramado.

Nesta altura reinava Napoleão, e o ambiente transformara-se radicalmente. Os mártires da Revolução foram removidos do Panteão e reenterrados em vala comum, e suas estátuas destruídas. Sua esposa, que era realista, conseguir livrar David da prisão, e apesar de se terem divorciado, declarou que nunca deixara de amá-lo, e por fim voltaram a se casar em 1796. Reabilitado e reintegrado no seu atelier e posição, voltou a aceitar alunos e retirou-se da política.
Napoleão e David admiravam-se mutuamente. David desde o primeiro encontro ficara impressionado com o então general, e quando este subiu ao trono David solicitou fazer o seu retrato. Depois pintou-o na cerimónia da coroação, nas bodas com Josefina, outra grande composição, e de novo na da Passagem dos Alpes, montado em um fogoso cavalo. 
A sagração de Napoleão, 1806-07 - Museu do Louvre
Por sua vez, Napoleão nomeou-o pintor oficial da corte, e pediu que ele o acompanhasse na campanha do Egipto, mas o pintor recusou, alegando que era velho demais para aventuras, e enviou em seu lugar um de seus estudantes, Antoine-Jean Gros.
Quando a monarquia Bourbon foi restaurada David foi um dos proscritos. Contudo Louis XVIII concedeu-lhe a amnistia e até lhe ofereceu uma posição na corte, mas David recusou, preferindo o auto-exílio em Bruxelas. Lá pintou Cupido e Psique, vivendo tranquilamente com sua esposa, e dedicando-se a composições em pequena escala e a retratos. Sua última grande criação foi Marte desarmado por Vénus e as três Graças, terminada um ano antes de sua morte. Segundo expressou, desejava que a obra fosse o seu testamento artístico. Exposta em Paris, reuniu uma multidão de admiradores.
Faleceu depois de ter sido golpeado por um carro na saída do teatro, em 29 de Dezembro de 1825 Seu espólio foi vendido, mas as pinturas remanescentes obtiveram baixos valores. Por causa das suas actividades revolucionárias seu corpo foi impedido de retornar à pátria, e foi sepultado em Bruxelas. Seu coração, porém, repousa em Paris.