É um pequeno Renoir, do tamanho de um guardanapo (e de facto
pintado sobre um guardanapo de pano), e foi comprado por um pequeno preço numa
feira da ladra por cinco euros em 2009 por uma ex-professora de Educação Física
do estado norte-americano da Virgínia. Mas a pintura tinha sido roubada do
Museu de Arte de Baltimore em 1951 e, por isso, a professora e a instituição
envolveram-se numa luta judicial que teve finalmente o seu desfecho: um juiz
federal ordenou sexta-feira que Paysage Bords de Seine deve ser restituído ao
museu.
Tal como o comprador de um Van Dyck cuja história se tornou
programa de televisão no Reino Unido, a professora Marcia Fuqua gostou da
moldura que envolvia a obra que Renoir pintou para a sua amante num restaurante
parisiense à beira-rio e comprou a obra, além de um conjunto de bonecos de
plástico numa feira da ladra em Harper’s Ferry, no vale de Shenandoah, na
Virgínia. E também como aconteceu ao padre britânico que teve nas mãos uma
pintura flamenga sem saber o seu real valor, a moldura deste Renoir
identificava-o: nela lê-se “Renoir (1841-1919)”. Mas a pintura em si não estava
assinada. A sua compra foi lucrativa: por sete dólares, cerca de cinco euros,
ficou com uma obra que valerá entre 55 mil e 73 mil euros.
A história de um tesouro artístico não exactamente escondido
no sótão mas perdido à vista de todos numa feira de objectos usados tornou-se
pública depois de a mãe de Fuqua, professora de arte, ter aconselhado a filha a
avaliar a pintura. Depois de ter sido confirmado que se tratava de um
verdadeiro Pierre-Auguste Renoir, Paysage Bords de Seine foi levada a leilão em
2012 pela Potomack Company, que representava Fuqua e que avaliara a pintura num
máximo de 73 mil euros. Mas um jornalista do Washington Post concluiu antes da
ida ao mercado que se tratava da obra subtraída ao Museu de Arte de Baltimore
há mais de 60 anos. O FBI confiscou a obra de 1879 e, segundo a Reuters, terá
avaliado a pequena pintura em cerca de 16 mil euros.
Pouco se sabe sobre o que aconteceu à pintura entre 1951 e o
momento em que emergiu depois de décadas de incógnitas num mercado nos EUA, mas
Fuqua defendeu sempre que a obra lhe deveria ser devolvida por não saber que se
tratava de um objecto roubado nem de que se tratava de um Renoir original.
Mas o desfecho da história não lhe foi favorável. A sua
pretensão de ser designada a proprietária legítima foi considerada sem
provimento – “O museu [de Arte de Baltimore] apresentou uma quantidade extensa
de provas documentais de que a pintura foi roubada”, disse a juíza Leonie
Brinkema, citada pela imprensa americana. “Todas as provas estão do lado do
museu de Baltimore”, disse, antes de firmar que o título de propriedade de um
objecto não pode ser transferível se a mudança de mãos resultar de um roubo. A
questão era um pouco mais complexa porque a pintura tinha sido emprestada ao
museu em 1937 pela sua mecenas Saidie May, que morreu em Maio de 1951 e deixou
o Renoir em herança à instituição – mas, aquando do seu roubo, a pintura estava
a ser alvo da transferência legal de propriedade, pois estava ainda listada
como um empréstimo, explica a Reuters.
Agora, 63 anos depois de ter ficado sem o seu pequeno grande
Renoir – mede 14x 23 cm
–, o museu diz em comunicado, citado pelo The New York Times, estar ansioso por
“celebrar a vinda da pintura para casa com uma instalação especial nas galerias
no final de Março”.