AS ARTES DA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX: CRIAR É PROVOCAR | M9

Nas primeiras décadas do século XX, uma autêntica explosão de experiências inovadoras convulsiona as artes. Continuando o percurso aberto na centúria anterior, artistas e escritores derrubam, uma após outra, as convenções académicas, criando uma estética inteiramente nova.
Este movimento cultural, conhecido como modernismo, por ter revolucionado as artes plásticas, a arquitectura, a literatura e a música, estendendo-se também às restantes manifestações culturais, reivindicou a liberdade de criação estética ao repudiar todos os constrangimentos, em especial os preceitos académicos.
O modernismo irradiou de Paris que era, então, o centro artístico da Europa. Nessa altura, quem quisesse conhecer o que mais ousado se fazia no campo das artes rumava à capital francesa para frequentar os ateliers e as suas boémias. A cidade era, pois, o cerne da vanguarda cultural europeia, recusando os cânones estabelecidos e antecipando tendências posteriores. Toda a cidade estava cheia de entusiasmo e plena de talentos.
Agrupados de acordo com os seus interesses, artistas e homens de letras partilhavam ideias e experiências criando, em conjunto, as numerosas correntes estéticas que revolucionaram a cultura do século XX, marcada por uma série de intuitos. Estes intuitos derivaram do dinamismo e euforia artísticos que então se viviam, manifestos num activo comércio de arte, criação de galerias, exposições e multiplicação das revistas da especialidade, ascensão dos críticos de arte, mas são, sobretudo, uma reacção às novas condições de vida do século XX: industrialização e urbanismo, desenraizamento apressado das populações, desenvolvimento técnico e tecnológico, avanço das comunicações e da publicidade, etc.
Se a arte da primeira década do nosso século tem uma orientação genericamente “modernista”, na medida em que visa reflectir e exaltar a nova concepção do trabalho e do progresso, a partir de 1910 afirmam-se em vários países europeus em vias de industrialização, movimentos ditos de vanguarda que querem fazer da arte um incentivo à transformação radical da cultura e do costume social: a arte de vanguarda propõe-se antecipar, com a transformação das próprias estruturas, a transformação social. Mais precisamente, propõe-se adequar a sensibilidade da sociedade ao ritmo do trabalho industrial, ensinando-lhe a discernir o lado estético ou criativo da dita “civilização das máquinas”.
Ana Lídia Pinto, História da Cultura e das Artes, Porto, Porto Editora, 2007
Maria Antónia Monterroso Rosas, O Tempo da História, Porto, Porto Editora, 2005
Guilio Carlo Argan, Arte e Crítica de Arte, Lisboa, Ed. Estampa.