A principal galeria do Museu do Prado foi especialmente preparada para esta exposição, e o resultado é já comparável ao êxito, no ano passado, de Manet no Prado ou Ticiano. Até à data, cerca de 200 mil pessoas viram O Retrato Espanhol De El Greco a Picasso - patente até 6 de Fevereiro -, um engenhoso jogo de semelhanças e diferenças entre 87 obras dos últimos cinco séculos.
O discurso procura ser cronológico, mas, graças a uma montagem astuta, a teia de relações entre retratos de épocas distintas está à distância de um olhar. Objectivo «mostrar o modo como esta "tradição" - na qual sucessivos artistas beberam inspiração - se desenvolveu, a originalidade com que grandes artistas reagiram aos seus antecessores, e o processo de inclusão de novas classes sociais», escreve no catálogo Javier Portús, comissário da exposição.
Pela primeira vez, o Prado exibe Picasso. Pela primeira vez, emprestam-se obras como Retrato de Rapariga, de Velázquez, ou Duquesa de Alba, de Goya. Com mais de metade das pinturas cedidas por instituições como a National Gallery de Londres, os museus do Louvre e Picasso de Paris, a Hispanic Society of America e o Museu Metropolitan de Nova Iorque ou a Gemäldegalerie de Berlim, este é um percurso de obras-primas e curiosas surpresas.
São Domingo de Silos (1474- -77), de Bartolomé Bermejo, é a mais antiga das obras apresentadas no núcleo dedicado às Origens, quando o retrato começa a impor-se como género autónomo numa época dominada pela pintura religiosa. Aqui se pode ver A Adoração do Nome de Jesus (1577-1582), de El Greco.
Com o Retrato de Corte, a partir de meados do século XVI, duas escolas ajudam a sedimentar a «tradição» a veneziana, bem patente em Filipe II (1551), de Ticiano, e a flamenga, como se vê em Filipe IV 1653-57), de Velázquez. Luz e sombra, vivacidade e pose austera, dois registos que acabarão por fundir-se numa evolução estilística que os espanhóis reclamam como sua.