O restauro, que durou onze anos e meio, é um dos
seis projectos de excepcional relevância no património europeu a ser
distinguido na sexta-feira com o prémio Europa Nostra, numa cerimónia que
decorre no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, com a presença do Presidente da
República, do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, e do presidente da
organização Europa Nostra, o tenor Plácido Domingo.
O evento acontece no âmbito do Congresso Europeu do
Património.
"É uma distinção que premeia a escola de
organaria portuguesa e homenageia os organeiros portugueses e todas as pessoas
envolvidas", disse à agência Lusa Dinarte Machado, o mestre organeiro
responsável. O complexo restauro foi acompanhado por uma comissão científica,
liderada por Rui Vieira Nery.
Pela singularidade dos órgãos e pela falta de
espaço dentro da basílica, sempre aberta ao culto, tratou-se de um trabalho
árduo, porventura único na carreira deste profissional, pelo estudo que a
conservação acarretou, pelo estudo em torno de instrumentos únicos no mundo e
pela necessidade de harmonização dos instrumentos de acordo com o respectivo
som original.
Mas, tendo em conta o estado de degradação dos seis
órgãos, o trabalho veio a tornar-se mais desafiante.
"Um dos seis órgãos estava desmontado desde o
século XIX e houve necessidade de o montar e de reconstruir a tubaria com base
no estudo de órgãos construídos pelo mesmo autor e que estão em diferentes
locais do país", explicou.
A importância artística dos órgãos, mandados
construir por D.João VI, e a longa empreitada, que custou um milhão de euros,
levaram a Comissão Europeia a distinguir, pela primeira vez desde 2005, o
restauro de um órgão, sublinha o músico João Vaz, consultor permanente do projecto.
De igual modo, recorda o organista, os órgãos têm
despertado o interesse dos investigadores, que desde há vários anos já
conseguiram estudar e adaptar aos dias de hoje as partituras de dezenas de
composições, escritas de propósito para serem tocadas no século XIX pelo
conjunto dos seis órgãos.
No sábado, Plácido Domingo desloca-se a Mafra para
assistir a um concerto dos seis órgãos e participar na assembleia-geral da
Europa Nostra.
"Esperemos que a sua vinda seja o pretexto
para um segundo regresso, dessa vez para cantar", afirma o director do
palácio, Mário Pereira.
Os órgãos foram construídos em 1807 pelos
organeiros António Xavier Machado e Cerveira e Joaquim António Peres Fontanes,
a pedido de D. João VI, sucessor de D. João V, que mandou construir o Palácio
Nacional de Mafra. Mas a actividade musical veio a decair com o exílio da corte
no Brasil, a degradação acentuou-se e os órgãos deixaram de funcionar em
conjunto.
Os Prémios Europa Nostra são apoiados pelo Programa
Cultura da União Europeia em cerca de 30 milhões de euros. A Europa Nostra
representa 250 organizações não-governamentais e sem fins lucrativos, de mais
de 50 países europeus.