David, Miguel Ângelo, mármore, altura do corpo 4,089 m, Museu da Academia, Florença, Itália, 1501-1504. | M5



Para Miguel Ângelo, só a escultura reunia as virtudes e as qualidades da “obra” integral, a mais próxima da pureza, perfeição e beleza da “obra divina”. Todas as outras artes, a pintura e a arquitectura, deviam, portanto, submeter-se às leis plásticas, estruturais e orgânicas dessa arte maior.
O seu espírito neoplatónico, fazia-o analisar demoradamente os blocos de mármore, procurando no seu interior a “forma ideal” da figura humana – expressão máxima da sua fé – que haveria de “libertar” para o mundo das coisas naturais.
Como se se tratasse de uma luta do espírito contra a matéria, muitas obras deixou inacabadas, por se sentir derrotado no seu ímpeto criativo: numa analogia com o processo da Criação divina, a figura.


só poderia “nascer” da pedra se correspondesse à “forma ideal” existente na mente do artista. Desta dualidade, resulta o intenso pathos interiorizado nas suas obras: aparentemente serenas, as suas estátuas exprimem uma energia contida, suspensa do gesto criador do artista.
David, com os seus 4 m de altura, é a primeira estátua monumental do Renascimento e destinava-se a ser exposta publicamente em frente ao PalazzoVechio, como símbolo cívico da República de Florença. Certamente impressionado pelo pathos emanado dos corpos helenísticos que pôde ver em Roma, Miguel Ângelo pretendeu traduzir em David o equilíbrio e a harmonia entre o corpo, clássico nas formas, e o espírito, idealista na expressão.
Porém, um terrível encanto permanece latente na sensação de inquietude e inconformismo que a obra manifesta, e que caracterizou a vida do seu criador.