Mural que desapareceu de Wood Green, no norte de Londres |
Provavelmente o artista de rua
mais conhecido do mundo, o britânico Banksy está a assistir à valorização
crescente da sua obra – mas não é ele que está a lucrar com ela. O agora famoso
mural do writer de grafitti que desapareceu de Wood Green, no norte de Londres,
em meados de Fevereiro, já terá sido vendido em leilão por um milhão de euros.
Os seus proprietários serão os donos do prédio em cuja parede foi pintado o
stencil de uma criança que costura bandeiras do Reino Unido. Slave Labour
(Bunting Boy) foi à praça no domingo através da empresa de serviços Sincura
Group, tendo esta sido a segunda investida do seu proprietário no mercado.
Poucas semanas depois de ter desaparecido de Wood Green, o stencil que já foi
interpretado como uma crítica ao Jubileu da rainha Isabel II ou como um
comentário sobre o trabalho infantil, surgiu para venda em Miami. Mas, na
altura, a população de Wood Green estava mobilizada contra o desaparecimento de
Slave Labour da parede exterior de uma das suas lojas e os protestos chegaram a
Miami. A comunidade, que encarou a subtracção deste Banksy como um roubo de um
presente que o street artist teria dado ao bairro, protestou mesmo nas ruas
contra a perda da obra e o concelho de Haringey, onde fica Wood Green, apoiou
essa campanha, levando-a aos palcos internacionais, visando a devolução da
obra. Sem apresentar explicações e, segundo a BBC, já quando o leilão de Slave
Labour tinha começado, a Fine Art Auctions Miami cancelou a venda em Fevereiro
– as suas expectativas do valor da venda chegavam aos 517 mil euros Em Maio,
novo desenvolvimento: o Sincura Group, que se apresenta como “porta de entrada
para uma vida VIP” que “começou como uma organização secreta” que “conseguia
acesso ao inacessível”, anunciava que iria vender a peça, bem como outros
trabalhos de artistas como Damien Hirst,
Andy Warhol ou o fotógrafo Mario Testino. O evento, que juntaria exposição e
leilão, estava agendado para dia 2, sendo Slave Labour uma das suas peças
centrais. Num comunicado datado de 11 de Maio, o Sincura Group afirmava ter
investigado a proveniência do mural, que diz ter sido “legalmente resgatado”,
frisando que “os actuais proprietários e o seu representante estão a agir de
boa fé”. Esses proprietários, confirmou à Bloomberg Robin Barton, marchand de
arte especializado em Banksy e que representa os vendedores do mural, são
Robert Alan Davis e Leslie Steven Gilbert, os donos da imobiliária Wood Green
Investments, que detém o edifício onde o artista pintou a obra e que - sendo
uma questão legal em aberto - considera ser a legal detentora da obra. A obra
“sofreu um extenso restauro” desde “a sua remoção”, lê-se na mesma nota de Maio
do Sincura, assinada pelo seu director, Tony Baxter. Nela, o grupo dizia ainda
que esta seria “mostrada pela primeira e única vez no Reino Unido antes de ser
devolvida aos Estados Unidos onde fará parte de uma importante colecção privada
de obras de Banksy”. A 30 de Maio, segundo disse à Bloomberg Robin Barton, já
existia uma oferta de cerca de 765 mil euros por parte de um colecionador
privado norte-americano. Mas a peça iria ainda assim a leilão com o Sincura
Group, na expectativa de atingir valores mais elevados. Barton detalhou, sobre
o evento à porta fechada, que no final da noite de domingo o grupo recebera
três licitações acima das 881 mil euros, e que iria reunir-se com os
proprietários para avaliar as ofertas em cima da mesa. Banksy não confirmou
nunca a autoria da peça, embora os peritos na sua obra estejam seguros da sua
proveniência, e citou apenas, em resposta a uma pergunta sobre a venda de arte
de rua em leilões no seu site, o impressionista Matisse: "Senti-me muito
envergonhado quando as minhas telas começaram a alcançar preços elevados, vi-me
condenado a um futuro de pintar nada mais que obras-primas."