A decisão de vender 50 peças da sua colecção
nada terá a ver com a polémica em que tem estado envolvido nas últimas semanas
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O conhecido publicitário e coleccionador de arte
contemporânea Carles Saatchi, que recentemente se divorciou de estrela
televisiva da culinária Nigella Lawson, depois de os seus actos de violência
doméstica se verem publicamente expostos pela imprensa mundial, vai leiloar 50
esculturas da sua conhecida colecção. O leilão acontece em Outubro e ao
contrário do que é habitual todas as obras vão à praça sem um preço inicial
estipulado.
A ideia de quebrar o modelo tradicional dos leilões partiu
de Saatchi, considerado um dos maiores coleccionadores de arte contemporânea do
mundo, e já está a gerar algum desconforto no meio, que teme a desvalorização
dos artistas em questão. Sem uma base de licitação mínima, como
sempre acontece, e que estabelece o preço mínimo a que certa obra pode ser
compradas, o mundo das artes plásticas teme o risco de preços de saldo.
Em causa, segundo o jornal britânico The
Guardian, estão obras conhecidas de autores tão emblemáticos da arte
britânica das últimas décadas como Tracey Emin, que terá em leilão a sua
cama de dossel, comprada por Saatchi em 2002. Mas, na venda, que ficará a cargo
da Christie’s de Londres, estarão também esculturas da alemã Isa Genzken, da
belga Berlinde de Bruyckere, da escocesa Karla Black e do canadiano David
Altmejd, artistas que este ano representam os seus países na Bienal de Veneza.
Kader Attia, David Batchelor, Björn Dahlem e a dupla Jake e Dinos Chapman.
A Christie's ainda não tem online qualquer tipo de
informação sobre o leilão nem as peças que serão vendidas. Os nomes avançados
pelo Guardian, apontam, porém, para o tipo de artista que sempre interessou a
Saatchi, que foi um dos orquestradores do movimento informal conhecido como
Young Bristish Art que na década de 1990 revolucionou a cena internacional da
arte contemporânea.
O leilão está marcado para 17 de Outubro, coincidindo com a
data de abertura da feira de arte contemporânea de Londres, a Frieze Art Fair.
Fugindo também ao habitual, a venda não acontecerá na leiloeira mas num antigo
armazém dos Correios no centro de Londres, devido à dimensão das peças e
instalações que vão à praça.
Sobre a forma como a venda vai acontecer, sem preços
marcados, o The Guardian escreve que algumas das peças poderão
ser licitadas pelos próprios artistas, numa tentativa de garantir que o seu
valor de mercado não desça, mantendo assim a sua reputação.
Segundo Philippa Adams, directora da Saatchi Gallery,
que fica em Londres, e à qual pertencem estas obras, o lucro do leilão
reverterá para programas educacionais e para manter as entradas
gratuitas na galeria. Ainda segundo esta responsável, citada pelo Guardian,
o anúncio do leilão não está em nada relacionado com o divórcio de Saatchi,
oficializado esta semana. O jornal britânico diz, na verdade, que
houve quem sugerisse que este anúncio surgiu agora para tentar fazer esquecer
os mais recentes incidentes.
Em Junho um tablóide britânico publicou fotografias em que o
coleccionador de arte apertava o pescoço à mulher com quem estava casado há dez
anos. Nigella acabou depois por apresentar queixa por violência doméstica, estando
a Scotland Yard a analisar o caso. Mas Adams garante: “Não tem absolutamente
nada a ver com o divórcio. Há muito tempo que estamos a trabalhar nisto.”
Adams explicou ainda ao The Guardian que a
ideia deste leilão sem preços é que as obras possam ser compradas para
colecções públicas, onde possam ser apreciadas por todos. “Achamos que é muito
importante abrir as coisas e dar uma oportunidade aos museus para poderem
adquirir estes trabalhos – eles precisam de ser apreciados e vistos.”
Vender obras antes acarinhadas é já habitual em Saatchi,
que, como escreve oThe Guardian, não tem uma colecção “estática”,
mas sempre “fluida”. Pontualmente, o coleccionador vende peças para, com os
lucro, adquirir outras.
Em 2010, Saatchi, actualmente com 70 anos, anunciou que
quando se reformar, a Saatchi Gallery e 200 das suas obras de arte passarão
para as mãos do Estado britânico, tornando-se propriedade pública.