Uma cultura de sentido pragmático
A cultura romana apresenta-se como um processo de síntese das culturas etrusca grega e orientais. As principais criações da cultura romana revestiam-se de um sentido utilitarista e pragmático.
O pragmatismo foi como de uma necessidade de resposta aos desafios que a complexa sociedade imperial colocou á afirmação do poder político e á ação dos indivíduos.
A cultura romana, um processo de síntese
Durante algum tempo, e para alguns historiadores, as realizações da Grécia clássica pareceram tao incomparáveis que Roma foi considerada pouco mais do que uma transmissora da cultura grega.
Esta transmissão foi, no entanto, uma transformação. De facto, as realizações do mundo de Roma, que gerações de diversos povos criaram e mantiveram, originaram um mundo novo.
Em relação á influência etrusca na Civilização Romana, os historiadores realçam sobretudo os fundamentos do urbanismo, algumas soluções arquitetónicas, a hierarquização social nas suas origens e as primeiras crenças.
Quanto ás influências orientais salientam-se o gosto pelo bem-estar e luxo, pela monumentalidade das suas realizações materiais e, também, o carácter místico de alguns dos seus cultos, como por exemplo o culto das deusas Ísis, Cibele e de Mitra.
Foi, no entanto, a influência grega aquela que, mais acentuadamente, iria marcar a cultura romana, como veremos a seguir.
A influência cultural grega no mundo romano
A evolução cultural do povo romano reflete, desde as suas origens mais antigas, vasta influência dos aspetos culturais gregos.
De, facto esta influência fez-se sentir logo que Roma estabeleceu os seus primeiros contactos com as cidades gregas do Sul da Itália.
Seria, no entanto, a partir do século II a.C., quando os Romanos conquistaram a Grécia e os reinos helenísticos do Mediterrâneo Oriental, que a helenização da cultura romana se
tornou irreversível, de tal modo que no século II d.C muitos habitantes do Império Romano eram bilingues.
Entre os aspetos da influência grega e helenística sobre a cultura romana destacam-se os seguintes:
·
os Romanos, especialmente os maus cultos, consideraram
sempre a cultura grega como um modelo de cultura superior; para conhecê-la
muitos aprenderam grego e educaram os seus filhos com mestres gregos
(«pedagogos») que os ensinavam e a ler e a escrever nesta língua;
·
as mais importantes criações culturais em língua latina (
literatura, história, teatro, filosofia...) seguiram, muitas vezes, nas formas
e nos temas, os modelos elaborados pelo mundo helénico;
·
a religião romana, embora inicialmente tivesse raízes
autóctones, a partir do séc. III a.C. começou a adotar os deuses gregos,
identificando-os com os deuses romanos, incluindo os mitos e mistérios com eles
relacionados;
·
a arte, embora com muitas inovações técnicas e com um
sentido de monumentalidade ausente na Grécia, procurou assimilar os ideais
estéticos criados pelos artistas gregos: nas ordens arquitetónicas, nas
esculturas e nos relevos;
·
a vida quotidiana também sofreu influencias em alguns
aspetos, como, por exemplo: os Romanos passaram a comer à moda grega,
recostados, com lutas e espetáculos musicais para entretenimento; o vestuário
foi adaptado aos modelos gregos; os enfeites e os cosméticos difundiam-se tanto
entre as mulheres como entre os homens; e até a prática das orgias (em
homenagem ao deus grego Dioniso) se difundiu «, influenciando as bacanais em
homenagem ao deus romano Baco.
Apesar
destas influências, Roma não se limitou a adotar e a transmitir ao Ocidente as
heranças etruscas, helénica e orientais. De facto, acrescentou-lhe importantes
elementos originais. Da fusão daquelas influências com os elementos originais
formou-se uma cultura de síntese que a seguir vamos caracterizar nos seus mais
relevantes aspectos.A encenação do poder
O urbanismo, a arquitectura, a escultura, a épica e a historiografia constituíram manifestações da vida material e cultural dos Romanos e, simultaneamente instrumentos da encenação do poder.
De facto, aquelas manifestações revestem-se de características que representam ou simbolizam aspectos do poder imperial: na monumentalidade, no didactismo, na exaltação dos heróis e do Império.
A monumentalidade do urbanismo e da arquitectura
Uma das principais originalidades dos Romanos residiu na monumentalidade do urbanismo e da arquitectura.
As suas preocupações no urbanismo estão ainda hoje bem patentes nas ruínas das cidades romanas, tanto na Itália como nas diversas províncias do Império: nas plantas das cidades, nos sistemas de esgotos e de abastecimento de água (aquedutos), nos diversos tipos de construções habitacionais, funcionais decorativas e outras.
A maior diferença entre a arte romana e a arte grega resulta da aplicação da abóbada e do arco de volta inteira (heranças dos etruscos, segundo a opinião da maioria dos historiadores). O conhecimento deste elementos possibilitou a cobertura de grandes espaços e permitiu a monumentalidade das construções utilitárias, religiosas, recreativas e comemorativas.
O arco romano era construído em pedra e só através da sua aplicação foi possível realizar grandes pontes e aquedutos. A sua utilização generalizou-se, aplicando-se em portas, janelas, arcos de triunfo, substituindo, em muitos casos com vantagens, o entablamento.
Também os grandes espaços abobados (basílicas) foram uma criação da arquitectura romana. As abobadas foram utilizadas em grandes edifícios públicos como termas, palácios, cúrias e grandes templos. As mais usadas foram a abobada de canhão e a cúpula.
Enquanto que os Gregos se preocupavam com a harmonia e a proporção, os Romanos privilegiavam a grandiosidade e a robustez das construção arquitectónicas.
Alguns monumentos romanos desafiam os séculos mantendo-se hoje ao serviço para o qual foram construídos há dois mil anos.
Os arquitectos romanos também utilizaram as ordens arquitectónicas gregas - dórica, jónica e coríntia -, tendo preferido esta ultima a uma outra que eles próprios criaram, a ordem compósita (combinação da jónica com a coríntia).
O didactismo politico da épica...
Como em quase todas as manifestações culturais, a influencia grega também se manifestou sobre os poetas romanos e é bem evidente na poesia épica. Neste género destacou-se o poeta Virgílio (
Baseando-se na referência homérica ao herói da guerra de Tróia - Eneias -, Virgílio reinterpreta-a e atribui a Eneias a fundação da cidade de Roma.
A Eneida passou a ser estudada nas escolas, e as cenas mitológicas nela narradas inspiraram artistas e decoradores, sobretudo nos frescos mosaicos das casas ricas.