A dança tal como a viu Columbano vai a leilão por meio milhão de euros. Cinco painéis de grande dimensão pintados em 1891 para o antigo Palácio do Conde Valenças vão ser leiloados dia 25 na Veritas.
Grupo em festa |
Um conjunto de cinco painéis que Columbano Bordalo Pinheiro
(1857-1929) pintou para o antigo Palácio do Conde Valenças, agora Hotel
Olissipo, em Lisboa, vai a leilão no final deste mês pela Veritas. Até agora em
mãos privadas, estas cinco pinturas decorativas que são “uma espécie de revista
histórica da dança”, como descreveu na época o escritor Fialho de Almeida,
mostram-nos um outro lado de um dos nomes maiores da arte portuguesa do século
XIX: Columbano foi o mestre do retrato mas deixou também uma obra importante na
pintura decorativa. Estes painéis são disso exemplo e a serem arrematados
poderão tornar-se na obra mais cara do artista vendida em leilão.
A venda está marcada para o dia 25 de Junho e a exposição
dos lotes só estará disponível a partir de quinta-feira, dia 19, mas as obras
de Columbano Bordalo Pinheiro, uma encomenda do Conde de Valenças para o salão
de baile do seu palácio, já estão em destaque nas paredes da leiloeira e não
passam despercebidas, em parte pela sua grande dimensão. São cinco painéis com 250 centímetros de
altura e faziam conjunto na época com mais duas pinturas e também com um tecto,
que continua a existir no palácio que deu lugar ao Hotel Olissipo.
Os dois painéis que aqui faltam (um deles assinado) estão
numa colecção privada, e hoje no hotel não haverá sequer quem saiba que naquela
sala onde há um tecto assinado por Columbano existiram em tempos estes painéis.
“Esta é uma peça invulgar, que apresenta os seus desafios
por causa da sua dimensão, mas não deixa de ser uma peça histórica”, Igor
Olho-Azul, leiloeiro da Veritas, contando que assim que lhe constou que Cenas
de Baile, de 1891, iria aparecer no mercado, não perdeu tempo e abordou o
proprietário para que este escolhesse a sua leiloeira. “É uma peça muito
marcante no percurso do Columbano, representa as danças palacianas nas suas
diferentes épocas, tendo sido apresentada num contexto muito próprio,
nomeadamente à burguesia lisboeta, o que foi importante na leitura que se
passou a fazer da obra do pintor”, explica o responsável, que vai levar estes
cinco painéis à praça num só lote. As suas estimativas apontam para os 500 mil
a 800 mil euros, um valor, admite, que é alto para o mercado nacional.
O preço mais alto que uma obra de Columbano atingiu em
leilão foram os 310 mil euros de O Serão, um óleo sobre madeira de 1880.
Aconteceu em 2001 no Palácio do Correio Velho, em Lisboa.
O período Império |
“No caso dos painéis, estamos a falar de uma peça com
história em todos os sentidos, quer pelo contexto em que foi apresentada, quer
pelo tema abordado”, diz Igor Olho-Azul. “Quaisquer dúvidas que existissem na
altura sobre o percurso de Columbano ficaram muito mais consolidadas com a
apresentação deste trabalho.” E por isso, diz, “quando se está falar de peças
excepcionais, os coleccionadores encaram-nas como extraordinárias”, estando
dispostos a pagar um preço proporcional. “O importante é perceber se ainda
existem coleccionadores que valorizam este tipo de peças e que acham que esta
obra pode ser importante para as suas colecções”, continua.
"Boas para um museu"
Tendo sido esta uma encomenda para um salão de baile,
Columbano achou por bem representar diferentes cenas de baile com casais
trajados à moda das diferentes épocas. Nos cinco painéis que vão agora à praça
estão representados a Belle Époque, o período Império, a época de Luís XV e a
época de Luís XIV. Há ainda uma pintura central e por isso ligeiramente maior
do que as outras e que representa simplesmente um grupo de nove pessoas em
festa. Este conjunto é descrito pormenorizadamente na obra de Fialho de
Almeida, Os Gatos, onde o escritor falar da “mais ampla obra do artista e a
mais superiormente executada de quantas até agora lhe saíram das mãos”.
Estes painéis "fazem parte de um tipo de trabalho em
que Columbano investiu e que valorizou muito”, nota Pedro Lapa, actual director
do Museu Colecção Berardo, em Lisboa, e que em 2007 venceu o Prémio Grémio
Literário 2007 pelo ensaio Columbano Bordalo Pinheiro, uma Arqueologia da
Modernidade, destacando também que foi nesta altura, ou seja, na década de
1890, que o pintor ganhou o reconhecimento nacional, “coisa que não tinha
acontecido na década anterior”. “Estas pinturas têm um sentido declaradamente
decorativo e este foi um trabalho que ocupou bastante o Columbano, que deixou
uma ampla obra nesta área”, explica Lapa. No entanto, para o especialista a
obra decorativa de Columbano “não é tão consistente quanto a sua obra de pintor
retratista”.
“Mas estamos sempre a falar de um dos nomes maiores do
século XIX português”, continua. “O Columbano é um pintor com uma estrutura e
uma personalidade própria, inimitável, profundamente idiossincrático, e isso é
sempre de valorizar. É sempre um trabalho curioso e isto é importante”, atesta
Pedro Lapa, que gostava de ver estas obras “no espaço arquitectónico para o
qual foram pensados”. “Idealmente eram boas até para um museu, o Museu Nacional
de Arte Contemporânea - Museu do Chiado (MNAC) devia ter meios para chegar à
praça e fazer uma aquisição, era o que aconteceria com o Museu d’Orsay, em
Paris, ou a Tate, em Londres”, defende Lapa. “Mas obviamente que os meios são
muito escassos e, não existindo uma política exaustiva de aquisições, entendo
que as prioridades sejam outras.”