O próprio preseidente da Christies's dirigiu o leilão de "Les Femmes d'Alger" |
Les Femmes d'Alger (version O), de 1955 |
As expectativas
criadas em torno do leilão que levou à praça 35 lotes “dignos dos melhores
museus”, como escrevia segunda-feira a agência de notícias AFP, foram assim
cumpridas. Looking Forward to the Past, organizado por Loic Gouzer,
juntou Picasso e Warhol, Basquiat e Monet, Rothko e Magritte. Estimava-se que as peças, da escultura à pintura e
criadas entre 1902 e 2011, pudessem, se vendidas na totalidade, atingir a marca
global de 885,7 milhões de euros – uma quantia nunca vista numa só venda
segundo a Artprice, a empresa de referência no que toca à informação e
estatística sobre o mercado das artes. O balanço final: 626 milhões de euros no
total do leilão, ficando apenas um lote por vender.
O ambiente na
sala da Christie’s de Nova Iorque, em Manhattan, condizia com o grau de
expectativa e com a importância do momento. Houve gritos, houve quem arquejasse
e a agitação tomou conta da sala quando o Picasso que representa um harém foi
arrematado em apenas 11 minutos por um valor nunca atingido por uma pintura em
leilão. Cinco clientes digladiaram-se por Les Femmes d'Alger (version O) assim
que ela atingiu os 106 milhões de euros (a base de licitação era de 89
milhões). Estavam a licitar por telefone, relata o diário americano New York Times, “por vezes em licitações
agonizantemente lentas de um milhão de cada vez”.
Ainda assim, a
estimativa da leiloeira (124 milhões de euros) foi batida e um comprador cujo
nome não é conhecido, mas que era representado na sessão por Brett Gorvy, o
director internacional da Christie’s para a arte contemporânea, ficou
finalmente com a preciosa pintura de 1,14X1,46 metros. Uma das últimas obras de
Picasso na posse de coleccionadores privados, diz a leiloeira, e que fora pela
última vez à praça em 1997, altura em que a pintura dos coleccionadores Victor
e Sally Ganz foi vendida por uns bem mais modestos 28,4 milhões de euros. “É um
preço para algo único. Não se pode substituir uma pintura como esta”, comentou
o negociante de arte Thomas Bompard ao diário americano.
Parte de uma
série de 15 obras (identificadas pelas letras de A a O pelo então septuagenário
Picasso e executadas em 1954 e 55) cubistas de cores vibrantes, “é uma pintura
absolutamente blockbuster – é uma das pinturas mais excitantes que vimos no
mercado nos últimos dez anos”, disse à BBC o fundador e presidente da
consultora e investidora de arte Fine Art Fund Group, Philip Hoffman. Para trás
fica a marca atingida por Bacon com o seu tríptico Três Estudos de Lucian
Freud, que por seu turno batera a quarta versão de O Grito, de Edvard Munch.
Três Estudos de Lucian Freud é agora a segunda obra de arte mais valiosa em
venda em leilão, seguida pela escultura de Giacometti e depois pelo emblemático
Munch. O top 5 é rematado por Nu au plateau de sculpteur, de Pablo Picasso.
tríptico de Bacon que representava o seu amigo e pintor Lucien Freud |
A Christie’s
bateu o seu próprio recorde: foi a mesma leiloeira que, em Novembro de 2013,
vendeu o tríptico de Bacon que representava o seu amigo e pintor Lucien Freud
por 106 milhões de euros (o Munch tinha sido vendido em 2012 por 89 milhões de
euros). E vendeu ainda muito mais obras neste grande leilão que abarcava
impressionismo, arte moderna ou contemporânea, como L'homme au doigt (1947-51)
do suíço Alberto Giacometti, uma delicada escultura em bronze de 1,77m da qual
só existem seis no mundo, que foi comprada por 112 milhões de euros, falhando
por pouco a estimativa de preço máximo da leiloeira e sendo disputada apenas
por dois licitadores, escreve o New York Times.
O peso dos museus
L'homme au doigt (1947-51) do suíço Alberto Giacometti |
Picasso e
Giacometti estavam já no topo de todas as listas relacionadas com esta venda.
Além de terem importantes obras representadas no leilão, eram os primeiros
autores de trabalhos com estimativas de venda acima dos 106 milhões de euros a
ir à praça em simultâneo. E do pintor espanhol houve ainda Buste de Femme
(Femme à la Résille) (1938), que superou as expectativas e se vendeu por 59,8
milhões.
Le Couple (L’Accolade) (1924) de Max Ernst |
Além das
superestrelas, outras ascenderam a novos valores: Le Couple (L’Accolade) (1924)
de Max Ernst rendeu 8 milhões de euros, Bluewald (1989) de Cady Noland bateu um
recorde para a artista atingindo os 8,6 milhões, Nº 36 (Black Stripe) de Mark
Rothko saiu por 35,5 milhões.