Paula Rego em Serralves com trabalhos nunca expostos


Museu do Porto recorre aos seus próprios fundos para organizar exposição com obras de António Areal, Jorge Queiroz e Paula Rego. 
Dancing Ostriches, de 1995

Algumas obras de Paula Rego nunca antes expostas poderão ser vistas a partir de amanhã no Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto. Trata-se da mostra "Recordações da Casa Rosa", patente ao público até 12 de Junho, na qual se reúnem ainda trabalhos de António Areal e Jorge Queiroz. Para organizar esta exposição o museu recorreu à sua própria colecção e organizou-a de modo a poder colocar em confronto os universos de três artistas que, em comum, têm, pelo menos, o recurso à figura e à narrativa.
As obras agora em exposição, dizem os responsáveis pela mostra, "podem facilmente ser associáveis a uma 'biblioteca' surrealista, transportando-nos para uma dimensão onírica, transgressora dos limites da representação". Resistem, no entanto, a essa possibilidade "pela sua singularidade, fugindo a uma identificação com um paradigma".

Embora as histórias sejam uma componente fundamental da pintura de Paula Rego (1935), a artista, como diz João Fernandes, director do Museu de Serralves e comissário da exposição, "nunca se dedica a uma mera ilustração dos acontecimentos ou das situações suscitados pelo seu ponto de partida. Os livros e as histórias que lhe servem de referência funcionam como um intertexto da ficção que cada trabalho seu constitui".

António Areal (Porto, 1934 - Lisboa, 1978), a par da produção visual manteve uma produção activa no domínio da teoria e da crítica de arte e, como se diz na apresentação da exposição, "foi sempre uma referência importante para outros artistas, entre os quais Paula Rego". Na sua obra constata-se o recurso a soluções formais oriundas do universo da banda desenhada e da arte gráfica. Em Serralves, serão apresentadas duas séries de desenhos, datadas de 1968 e 1972. 
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Ecos do surrealismo
A primeira corresponde a trabalhos que, "revelando ainda ecos do surrealismo, traduzem já influências da arte da pop, assim como o recurso a composições formais associáveis às artes gráficas", refere o texto de apresentação. Na série de 1972, já afastado do contexto artístico devido a problemas de saúde, António Areal dedica-se quase em exclusivo ao desenho. Jorge Queiroz, nascido em Lisboa em 1966, recorre a meios de registo diversificados, como a grafite, o lápis de cor, o pastel de óleo, o acrílico ou o guache. Produz desenhos "que apresentam uma profusão de elementos figurativos e abstractos que se justapõem, fundem e transformam e que, através de processos análogos à livre associação, constituem exuberantes ficções, alheias a qualquer narrativa ou guião".