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O pintor e
escultor catalão Antoni Tàpies, considerado um dos maiores representantes
europeus da arte abstracta do pós-guerra
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Numa entrevista que deu ao
El País, em
2004, já com problemas de cegueira e de audição, dizia que “o corpo humano se
adapta a tudo” e que envelhecer lhe tinha dado uma certa tranquilidade. Sentia
que se encontrava “um pouco mais livre do que quando era jovem”. Acreditava que
a pintura só valia a pena se fosse útil à sociedade, “porque senão não valia a
pena fazê-la”.
Nasceu em Barcelona, em
1923, numa família burguesa e o seu pai queria que ele fosse advogado. Ainda
estudou direito, mas abandonou o curso para se dedicar à arte em que era
autodidacta.
Alugou o seu primeiro
atelier, em 1946, na cidade de Barcelona. Começou a estudar a arte moderna através
de livros e revistas catalães do início dos anos 30. Quando tinha 18 anos, por
causa de uma lesão pulmonar, teve de passar dois anos na cama e dedicou-se a
copiar obras de pintores que admirava, como Van Gogh e Picasso. Foi graças ao
seu médico da altura, que, anos mais tarde, conheceu em Paris, o pintor de
Guernica.
Conseguiu uma bolsa para
estudar nesta cidade e é lá que, em 1956, realiza a primeira exposição
individual. O coleccionador de arte e galerista Joan Prats iniciou-o na
literatura surrealista de André Breton (Tàpias funda, em 1948, o grupo Dau al
Set, que abandona em 1951) e apresentou-lhe o pintor Miró, que foi seu amigo
até morrer.
Em 1960, Tàpies participou
numa mostra da nova pintura e escultura espanhola no Museu de Arte Moderna de Nova
Iorque e esteve representado na exposição “Before Picasso, After Miró”, do
Museu Guggenheim da mesma cidade.
Como artista integrava-se
na tradição cultural da Catalunha, com uma dimensão política simultaneamente
autonómica e contra o franquismo (foi preso em 1966). “Tem uma forte influência
da liberdade poética do surrealismo, mas há nele, uma orientação muito original
para outras sensibilidades, nomeadamente as orientais ligadas ao budismo”, diz
o historiador de arte João Pinharanda. “Na sua pintura, o gesto liberta-se quer
da forma naturalista, quer da escrita verbal. Cada conjunto de gestos
transforma-se num signo. Às vezes, imprime a sua mão na tela como se estivesse
a repetir um gesto primordial.”
Em 1954, a sua obra passou a
ser mais expressiva e deu origem àquilo que se designa por pintura matérica.
“Ao mesmo tempo que o gesto se autonomiza, a matéria com que pinta toma conta
da superfície pintada. Ganha volume, quase que se transforma em matéria
escultórica. Isso também coincide com a utilização que faz de matérias que são
estranhas à pintura tradicional”, lembra João Pinharanda. Antoni Tàpies
utilizava nos seus quadros: cimentos, areias, látex, pó de mármore, etc. E
incorpora na sua pintura, materiais de lixo urbano. “Como se estivesse a recuperar
do lixo coisas que voltava a erguer como grande Arte. É uma arte feita com
materiais pobres. Tàpies enquadra-se nessa poderosíssima genealogia da grande
pintura espanhola. Tem toda a tradição atrás dele”, conclui Pinharanda.
Em 1990 recebeu o Prémio Príncipe
das Astúrias e abriu as portas da sua Fundação, em Barcelona, onde expunha a
sua obra. Esteve representado na Bienal de Veneza e na Tate Gallery em Londres. A Fundação
Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e a Fundação de Serralves, no Porto, fizeram retrospectivas
da sua obra e, em 2010, houve exposições suas em Évora e na Régua.