Museu de Nápoles queima obras de arte em protesto


Cortes no financiamento público levam director do Museu Internacional de Arte Contemporânea de Casoria a ameaçar queimar toda a colecção permanente.
A crise económica está a deixar a cultura italiana a ferro e - literalmente - fogo. O artista plástico Antoni Manfredi, fundador e director do Museu Internacional de Arte Contemporânea de Casoria (CAM), perto de Nápoles, ameaça queimar toda a exposição permanente do museu em protesto contra os cortes brutais que o Governo italiano impôs ao orçamento do Ministério da Cultura. A primeira vítima das chamas foi uma peça da pintora e ilustradora francesa de livros infantis Séverine Bourguignon, que concordou com o protesto e assistiu anteontem, online, à destruição da sua obra.
Manfredi, que anunciou a intenção de queimar três peças por semana, argumenta que as mil obras de arte do museu "estão de qualquer modo destinadas à destruição pela indiferença do Governo". Muitos artistas terão já apoiado a iniciativa - a que Manfredi chama Art War - e, ontem mesmo, o escultor galês John Burns, em solidariedade com o protesto, incendiou uma das suas criações e colocou o vídeo da queima no YouTube.
Já no ano passado, Manfredi, que criou o museu em 2004, tentou levar a instituição, incluindo o respectivo pessoal, para a Alemanha, mas Angela Merkel nunca respondeu ao seu insólito pedido de "asilo político". O director do CAM alegava que as exposições que promovera sobre a Camorra tinham irritado a mafia napolitana, que o ameaçara de morte e vandalizara o museu.
Mas as consequências dos cortes nas verbas para a Cultura - que desceram para 0,21% do Orçamento do Estado italiano - estão a ter consequências em instituições dos mais variados sectores. O director do La Scala avisou esta semana que o mítico teatro de ópera de Milão corre o risco de ser privatizado. Em 1998, o Estado garantia mais de 60% do orçamento, hoje assegura menos de 40%. 



  


Demissões no Maxxi
Mesmo o recém-fundado Maxxi, o ambicioso museu de arte contemporânea do século XXI inaugurado em Roma há pouco mais de dois anos - o edifício é da autoria da prestigiada arquitecta iraquiana Zaha Hadid - atravessa graves problemas.
Parecia um caso de sucesso, com 450 mil visitantes em 2011 e uma capacidade de autofinanciamento que rondaria os 50%, mas o conselho de administração do Maxxi, presidido pelo arquitecto Pio Baldi, não conseguiu convencer o Ministério da Cultura a disponibilizar a soma que considera indispensável para garantir a actividade do museu no ano corrente - 10 milhões de euros -, e, em consequência, recusou-se a aprovar o orçamento para 2012.
O ministro da Cultura, Lorenzo Ornaghi, não esteve com meias-medidas e demitiu a administração em bloco, substituindo-a por um comissário nomeado pelo Governo, medida que já motivou críticas públicas do seu antecessor no cargo, o centrista Rocco Butiglione.