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Realizador tinha 76 anos |
Fernando Lopes, um dos nomes de referência do Cinema
Novo português, morreu esta quarta-feira aos 76 anos, confirmou ao PÚBLICO
fonte familiar. O cineasta, que estava hospitalizado na Cruz Vermelha, em
Lisboa, tinha um cancro na garganta, diagnosticado há cerca de um ano.
Com uma
carreira de 50 anos, Fernando Lopes era, a par de Paulo Rocha e Manoel de
Oliveira, uma das referências do cinema português. Autor de “Uma Abelha na
Chuva”, de 1972, destacou-se recentemente no top do PÚBLICO, que pediu a dez personalidades da cultura para
escolher os dez filmes nacionais que devem vir a integrar o Plano Nacional do
Cinema (PNC). Entre as escolhas, Fernando Lopes foi o realizador com mais
menções, logo atrás de Manoel de Oliveira.
Fernando Lopes foi internado na semana passada na Cruz Vermelha, em Lisboa, com
uma pneumonia e, segundo fonte familiar disse ao PÚBLICO, estava muito magro e
não conseguia comer. Há cerca de um ano, o realizador ficou a saber que tinha
um cancro na garganta.
O corpo de Fernando Lopes vai estar em câmara ardente amanhã, quinta-feira, no
Palácio Galveias, em Lisboa, entre as 18h e as 22h numa cerimónia laica. Na
sexta-feira, o realizador vai ser cremado numa cerimónia privada.
Para o realizador Alberto Seixas Santos, Fernando Lopes definia-se apenas numa
palavra: generoso."E essa generosidade ele passava-a para os filmes, e
para o seu amor às pessoas", disse o realizador ao PÚBLICO.
"Fernando Lopes estará sempre entre os melhores dos melhores da história
do cinema em Portugal, tendo lutado por um cinema mais realista, mais reflexivo
e com mais corpo e conteúdo, tendo sido capaz de fazer muito com poucos
recursos", escreveu em comunicado Francisco José Viegas, secretário de
Estado da Cultura, defendendo que "os filmes de Fernando Lopes devem ser
um antídoto contra o esquecimento, pelo cinema, pelo amor ao cinema".
"Vê-los seria uma bela homenagem a Fernando Lopes e à extraordinária
beleza do cinema que ele sempre procurou", conclui Viegas.
Da televisão para o cinema
Começou por trabalhar em televisão, ao entrar para a RTP no ano da inauguração,
em 1957, e mais tarde, na década de 1980 foi fundador e director da RTP2. No
entanto, foi no cinema que se destacou, dividindo-se entre o documentário e a
ficção, tendo assinado mais de 50 obras.
Foi depois de se ter formado em cinema, pela London Film School, como bolseiro
do Fundo de Cinema Nacional, que de regresso a Portugal realiza “Belarmino”, em
1964, sobre a vida do boxeaur Belarmino Fragoso. É considerado uma das suas
maiores obras, uma referência no movimento que ficou conhecido como Cinema
Novo.
Em 1965, fez um estágio em Hollywood, onde permanece três meses e quando
regressa a Portugal filma “Uma Abelha na Chuva” (1972), adaptação do romance de
Carlos de Oliveira. Protagonizado por Laura Soveral e João Guedes, conta a
história de um casal e a viver num meio rural, retratando um ambiente social
rígido, com as três classes - o povo, a aristocracia e a burguesia - bem
demarcadas.
Fernando Lopes realizou ainda “Nós Por Cá Todos Bem” (1976), “Crónica dos Bons
Malandros” (1983), “Matar Saudades” (1988) e “O Fio do Horizonte” (1993), sobre
o funcionário de uma morgue que procura obsessivamente a identidade de um
cadáver, adaptado da obra com o mesmo nome de António Tabucchi.
Em 2002, realiza “O Delfim”, a partir da obra de José Cardoso Pires, argumento
escrito por Vasco Pulido Valente. Nas palavras do realizador na altura em que o
filme chegou aos cinemas, foi “sobretudo um prodigioso pretexto cinematográfico
para entender paixões e emoções, misérias e grandezas de um Portugal
agonizante, em plena guerra colonial e com o seu ditador (Salazar) a morrer
lentamente, como o país”.