Baronesa Thyssen vai vender uma das jóias do museu

John Constable (1776-1837)
The Lock (1824)"The Lock" vai à praça por 25 milhões de euros
“A crise afecta-nos a todos. Também aos coleccionadores. Preciso de dinheiro”, foi assim, sem rodeios, que Carmen Thyssen anunciou na terça-feira a venda de uma das jóias da sua colecção, o óleo “The Lock” (1824), de John Constable (1776-1837). A obra, que vai ser leiloada pela Christie’s de Londres a 3 de Julho, é uma das seis pinturas que compõem a série mais famosa do artista de grande escala e que inclui ainda o quadro “The Hay Wain”, na colecção da National Gallery, em Londres.

“The Lock”, que é a única obra da série em mãos privadas, vai à praça por 25 milhões de euros mas a leiloeira estima que o valor possa facilmente ultrapassar os 40 milhões de euros. Quando em 1990 foi comprado por 10,8 milhões de libras (13,5 milhões de euros) pelo barão Hans Heinrich von Thyssen-Bornemisza e a sua mulher, Carmen Thyssen, o quadro tornou-se na obra britânica mais cara da história, um recorde que manteve durante 16 anos. É por isso que a baronesa espera agora que a venda supere novamente as expectativas.

“Haverá muitas licitações importantes porque, em Inglaterra, Constable é o número um”, disse a baronesa aos jornalistas, citada pela RTVE, explicando que o patronato do Museu Thyssen-Bornemisza, onde está exposta a sua colecção de 240 quadros – entre os quais obras de Van Gogh, Gauguin, Cézanne, avaliados em 700 milhões de euros –, aprovou a venda do Constable. No entanto, Carmen Thyssen não escondeu a tristeza por ter de se desfazer de uma das suas grandes obras. 
“Eu tenho muita pena, custa-me muito, mas a crise também é para os coleccionadores de arte. Se não fosse isso, eu não dava este passo”, afirmou a baronesa, lembrando que o seu marido, que morreu em 2002, também vendeu alguns quadros “quando teve necessidade”. Mas garante que esta decisão não significa uma venda em cadeia das suas obras. A baronesa precisa de liquidez, como mencionou, e o dinheiro da venda do quadro é o suficiente.
Mesmo que quisesse vender mais obras, Carmen Thyssen apenas pode vender até 8% do valor da colecção e neste caso, o quadro de Constable representa já cerca de 2,4%, razão pela qual o director do museu, Guillermo Solana, não vê motivo de preocupação. 
Aos jornalistas, a baronesa explicou mesmo que a única oposição que teve foi a de Francesca Thyssen, filha do barão, que tentou impedir a venda do quadro. Antes da decisão, Carmen Thyssen ainda tentou que o Estado a comprasse, mesmo que a prestações, no entanto, o momento que o país atravessa não permitiu que acontecesse.
Para o presidente da Christie’s na Europa, Jussi Pylkkänen, é uma honra para a leiloeira levar este quadro à praça. “’The Lock’ é uma das pinturas mais extraordinárias de John Constable e uma das mais marcantes da arte europeia. Esta soberba paisagem, da mesma série de ‘The Hay Wain’, representa a pintura paisagística britânica no seu melhor e de certeza que vai ter licitações de museus e coleccionadores de todo o mundo”, escreveu em comunicado o responsável.
Opinião partilhada por Richard Knight, responsável pelo departamento da pintura britânica na Christie’s, que não têm dúvidas de que a venda desta obra “será um momento de enorme significado para o mercado da arte”.

Depois de ter anunciado na terça-feira a venda da obra, Carmen Thyssen explicou que “The Lock” já está em Londres mas que ainda esta semana viajará para Nova Iorque onde será exposto.