Em busca da harmonia e da proporção
Sem ter alcançado o elevado estatuto que a
filosofia, o teatro, a poesia e a música tiveram entre os Gregos antigos, as
artes visuais ocuparam lugar importante no seu sistema de vida e são, hoje, um
dos maiores testemunhos do refinamento da civilização helénica e, também um dos
seus mais importantes e duradouros legados à posteridade.
Conhecida, inicialmente, sobretudo pelas
referências e cópias que dela fizeram os Romanos, a Arte Grega maravilhou os povos europeus, desde o Renascimento pelo carácter racional e quase científico
dos seus princípios estéticos: pelo rigor e domínios técnicos que aplicou ao
tratamento dos materiais de suporte; e, principalmente, pela clareza, harmonia
e ritmo das formas criadas que em tudo seguiam “a medida do Homem”, abandonando
a tendência para a monumentalidade das civilizações anteriores.
A
arquitectura grega – Os Templos
A
arquitectura grega inclui vários tipos de construções (casas de habitação,
teatros, palestras, ginásios, pórticos…), mas teve a sua versão mais perfeita
nos templos, morada dos deuses e símbolos das pólis. Foi na construção dos
templos que se estabeleceram os princípios construtivos, técnicos e estéticos,
que serviram de modelo para os restantes edifícios.
Estes princípios nasceram de um longo
processo de identificação e maturação dos problemas da edificação. Essa
maturação, que se iniciou logo na época arcaica, fez-se em permanente ligação
com a matemática e a geometria, o que demonstra o espírito racional e
científico dos Gregos na busca das soluções ideais (as universais e únicas)
para cada um desses problemas. Dessa busca nasceram as primeiras noções de
medida, proporção, composição e ritmo pelas quais qualquer concretização plástica se devia reger.
Foi desta dialéctica entre a prática e a
teoria que se estabeleceram as ordens
arquitectónicas, conjuntos de regras que definiam as medidas e as relações
de proporção entre todos os elementos construtivos; a forma desses elementos; e
a decoração que comportavam (relevos, estatuária e pinturas), fazendo da
arquitectura um exercício racional e científico (já que baseado em rigorosos
cálculos de Mecânica, Física, Geometria e Matemática), mas submetido a
critérios estéticos de grande sensibilidade e elegância.
Na época clássica, os Gregos construíam os
seus templos em pedra, geralmente mármore, seguindo o sistema trilítico, e
obedecendo a uma planta-tipo rectangular e períptera, cuja origem resultou da
evolução do mégaron ou sala do trono dos palácios micénicos.
Em volume, as formas e dimensões do templo
variavam de acordo com as regras de duas ordens arquitectónicas: a ordem dórica
e a ordem jónica.
A ordem
dórica é a mais antiga, tendo tido a sua origem no continente grego
(provavelmente no Peloponeso), durante a época arcaica, cerca de 600 a .C. Os templos
construídos nesta ordem possuem
proporções robustas e uma decoração sóbria, principalmente geométrica, o que
lhes confere um aspecto maciço e pesado que tem sido associado ao espírito
masculino e guerreiro dos Dórios, o povo que a inventou.
Contudo, a ordem, simetria e equilíbrio das
suas formas provocam-nos, muitas vezes, uma sensação ilusória de simplicidade.
É que, estudando meticulosamente estes templos, os historiadores actuais
descobriram que, por serem perípteros, estavam sujeitos a determinadas
deformações ópticas que desvirtuavam a sua perfeição geométrica. Conhecedores
dessas deformações, os arquitectos gregos souberam corrigi-las matematicamente,
de modo a que o observador distinga o templo como absolutamente regular.
Nascida na época arcaica, a ordem dórica
sofreu uma significativa evolução na passagem para a época clássica: as
proporções adelgaçaram-se, o capitel tornou-se mais geométrico e as métopas,
anteriormente lisas, adquiriram decoração escultórica. Estas alterações
conferiram maior elegância aos templos desta ordem, que tem o seu expoente na construção do Parténon, em Atenas, no século V a.C.
Outros templos dóricos são: o templo de Hera, em Olímpia; o de Apolo, em corinto; o de Posídon, datado de meados do século V a.
C; e o de Ceres, na Magna Grécia.
A ordem Jónica de formação um pouco mais recente (meados do século VI
a.C.), desenvolveu-se, principalmente, na Ática e na Jónia (província da Ásia
Menor). É de proporções mais esbeltas (colunas mais finas e mais espaçadas) e
possui maior decoração, patente, sobretudo, no capitel de grandes volutas
enroladas e no friso contínuo do seu entablamento, com relevos historiados. Por
estas razões, e geralmente associada ao espírito feminino.
Inicialmente, a ordem jónica foi aplicada a
edifícios pequenos, de estrutura simples, como o templo de Atena Niké, na acrópole da cidade de Atenas; no entanto, aparece
igualmente em obras mais complexas como o Templo
Erectéion, da mesma acrópole.
A ordem jónica sofreu, com o tempo, algumas
variantes, por vezes designadas como novas ordens. As primeiras surgiram quando as colunas foram
substituídas por esculturas de mulheres (as cariátides) ou de homens (os atlantes) que suportam, sobre a cabeça e/ou os ombros, o peso do
entablamento e cobertura.
Contudo, a variante jónica mais conhecida é
a ordem coríntia, criada nos finais
do século V a.C. por Calímaco, da cidade de Corinto. A sua especificidade
reside numa decoração mais rica, visível no capitel, no entablamento e no
frontão.
A ordem coríntia foi usada, pelos Gregos de
forma parcimoniosa e encarna o espírito ornamentalista do século IV a. C. No
entanto, teve grande expansão no período helenístico e foi a mais usada pela
arquitectura romana, que a divulgou por todo o império.
Na Grécia, podemos observar a ordem
coríntia no Templo de Zeus Olímpico e
no Monumento Corágico a Lisícrates,
datado do século IV a. C., ambos situados em Atenas.
A decoração dos templos gregos, qualquer
que fosse a sua ordem arquitectónica, recorria sempre á escultura (relevos e
estatuária), que ocupava lugares próprios, e á pintura, que preenchia parte das
paredes interiores e cobria todas as estruturas arquitectónicas e esculpidas,
atribuindo-lhes um invulgar colorido.
Destinados a serem admirados, sobretudo do
lado de fora, os templos gregos apresentam-se como modelos de equilíbrio,
proporção e clareza formal pois são construídos a partir de apurados critérios
racionais e científicos, os mesmos que caracterizam o pensamento e a actuação
dos gregos na filosofia, na política, e no teatro. Embora dedicados aos deuses,
eles reflectem, principalmente, a mentalidade antropológica e racional do
homem-cidadão da civilização helénica.
A acrópole como síntese da arquitectura
grega
A destruição causada pelas segundas Guerras
Persas nos anos de 489-479 a .
C., em Atenas, foi o pretexto, durante a magistratura de Péricles, para uma
grandiosa reforma urbana que privilegiou a acrópole da cidade.
Encomendado por Péricles em 447 a . C., o plano de
reconstrução da acrópole foi superintendido pelo escultor Fídias que, para tal,
se rodeou de arquitectos, escultores, pintores e outros artistas. Como
resultado, esta fortaleza rochosa e alcantilada rodeou-se de novas muralhas e
encheu-se de novas e coloridas construções unidas por relvados espaçosos.
Entre estas novas construções contam-se os
templos do Parténon (o primeiro a ser construído e aquele que, pelas suas
dimensões e localização central, preside e domina o recinto sagrado da
acrópole), o do Erectéion e o de Atena Niké, vários santuários (com o de Zeus
Pólios), os tesouros dos deuses estátuas grandiosas em mármore e bronze,
colocadas em pedestais (como a de Atena Promacos, que segura na mão uma lança
cuja a ponta reluzente serviu de guia aos navios que entrvam na barra do
Pireu).
No entanto seu conjunto, estes novos monumentos
sintetizam todo o repertório formal e das ordens da arquitectura grega e
comprovam os apurados critérios formais, métricos e estéticos que presidiram à
sua concepção e construção técnica.
A casa grega. A Grécia berço do urbanismo ocidental
A Natureza e o
Homem foram a medida da cidade grega, onde a vida quotidiana decorria
maioritariamente ao ar livre.
Desde a época
arcaica até à época clássica, as pólis gregas constituíam pequenos amontoados
populacionais de malha irregular e incaracterística, gerada de modo não
planeado e sem ideia de conjunto. A cidade integrava-se no meio ambiental
natural pois muros, ruas e edifícios não faziam desaparecer os acidentes do
terreno, apenas os nivelavam numa proporção respeitosa; até os edifícios em
ruína eram conservados ou incorporados noutros novos.
Assim, as zonas
habitacionais das cidades gregas possuíram uma aspecto labiríntico e
desordenado, com ruas estreitas e não pavimentadas, sem diferenciação social,
nem nas casas de habitação.
Estas, pelo puco
que hoje se conhece, eram construídas em madeira ou tijolo e cascalho
misturados com argamassa. Deviam inserir-se na tradição mediterrânia da casa
que se desenvolve em torno de um pátio central descoberto, por vezes provido de um pórtico, e quase
sempre virado para sul para uma maios insolarização. Os compartimentos internos
destribuíam-se em redor do pátio, sem axialidade ou simetria.
As casas podiam
possuir vários andares que se adaptavam, de modo irregular, aos declives do
terreno. Assim, o seu perímetro externo era, por vezes, também irregular. A
decoração parece ter sido de grande sobriedade e austeridade.
Com
desenvolvimento da democracia, no começo da época clássica, aparecem nas
cidades-estado novos elementos urbanísticos que denunciam uma participação
maior do povo nos assuntos da comunidade. Para além dos templos, surgem, em
torno da ágora, vários edifícios dedicados à vida pública e ao exercício da
democracia: o ecclesiasteron (sala para as assembleias públicas), o
bouleuterion (sala das assembleias municipais), o prytaneion (sala da câmara
municipal) e a stoa, espécie de pórtico comprido destinado ao comércio e ao
convívio social. Estes equipamentos político-administrativo e económicos
fizeram da ágora o verdadeiro centro cívico das cidades gregas.
Uma outra
inovação diz respeito ao aparecimento, dentro da cidade, de construções
dedicadas ao lazer e à diversão: os teatros ao ar livre e os estádios.
Esta evolução
prova que a cidade grega da época clássica havia deixado de ser o amontoado de
casas humildes dominado pelo palácio-templo, ou palácio-fortaleza, de um rei
divinizado ou temido, para se converter numa estrutura mais complexa onde
dominavam os elementos destinados a uma utilização geral.
Contudo, foi só
com o Hipódam (c. 500 a. C.) da cidade jónia de Mileto (na Ásia menor) que
haveria de surgir, no pensamento grego, uma teoria racional e lógica da
organização das cidades, a qual ele mesmo teve oportunidade de pôr em prática.
Por isso, Hipódamo é hoje considerado o primeiro urbanista com critério rigoroso
que o mundo conheceu.
A sua teoria
nasceu do plano da reconstrução de Mileto, efectuada no século V a. C. Nesse
plano a cidade foi rasgado por avenidas longitudinais que se cruzavam em ângulo
recto com as ruas transversais, formando quarteirões regulares, organizado por
áreas diferenciadas segundo a função/profissão. Os quarteirões – formados, cada
um, por duas filas de cinco casas de configuração de áreas semelhantes -
constituíam o módulo, a partir do qual se desenvolvia todo o plano urbano. As
cidades adquiriam, assim, uma malha em rectícula ou quadrícula, cuja invenção
tem sido atribuída a Hipódamo, embora ela existisse já nas civilizações
indostânicas, egípcias e mesopotâmicas.
Reconhecimento
pela funcionalidade, o plano hipodamiano foi aplicado na reconstrução de velhas
cidades gregas (como Atenas no porto de Pireu, Rodes e Prienne, na Ásia Menor),
mas sobretudo em cidades criadas de raiz como foram as colónias geradas pelo
expansionismo dos Gregos na bacia do Mediterrâneo.
A maior afirmação
de urbanismo hipodamiano fez-se, contudo, no período helenístico, no qual,
graças às conquistas de Alexandre Magno, a cultura grega pôde expandir-se por
todo o Próximo e Médio Oriente, dando origem à criação de novas cidades que
aparecem desde a Cirenaica até ao Indo. Assim se impôs uma nova estética urbana
que os Romanos haveriam de adoptar.
O Homem em todas as suas dimensões
É na escultura que, de forma imediata e
lógica, nos apercebemos da verdade da frase de Protágoras que dizia: “O Homem é
a medida de todas as coisas”. Com efeito, para o Grego, a escultura glorifica,
acima de tudo. O Homem, ainda que retrate heróis, atletas e deuses, já que até
este se concebiam à imagem e semelhança dos humanos para os quais eram modelos
ideais.
Deste modo, a escultura grega foi concebida
para caracterizar noções particulares de beleza e harmonia, tendo como “papel
primordial pôr em evidência a ideia de que a arte conseguia pela habilidade da
representação exacta das aparências visìveis”. Usou, portanto, a mimesis ou a
ilusionismo da representação, defendido por Aristóteles e Platão, chegando ao
ponto de colorir totalmente as estátuas
e relevos para atingir um realismo de grande vivacidade.
Simultaneamente realista e idealista, a
escultura grega esteve estreitamente ligada à arquitectura, onde ocupava locais
próprios e onde exercia funções religiosas, políticas, honoríficas e
funerárias, tanto quanto ornamentais.
O seu profundo humanismo manifestou-se,
principalmente, por meio da medida e do tema forma, pois toda a temática da
escultura grega, à excepção do centauro e do fauno, é exclusivamente humana.
A
herança pré-helénica e a escultura arcaica
Tal como na arquitectura, a génese da
escultura grega encontra-se no longo período que vai do século IX ao V a. C.,
cuja última etapa (a partir do século VII) é designada por período arcaico.
A estatuária deste período, realizada
primeiro em madeira e depois em pedra, denota diversas influências, das quais
se destacam a estética da estatuária assíria e egípcia, algumas sobrevivências
creto-micénias e a arte oriental.
Da produção grega arcaica chegaram até nós
dois tipos básicos:
Os Kouroi, presentação de jovens
nus que, segundo se supõe, simbolizavam deuses (talvez Apolo, deus da
juventudade e beleza) ou atletas-heróis. Foi nestas estátuas que os Gregos
ensaiaram as primeiras representações anatómicas e o movimento corporal;
as Korai, representação de
raparigas vestidas com longas túnicas pregueadas e pintadas de cores luminosas.
Eram, talvez, jovens virgens usadas na
cerimónias rituais.
Kouroi e Korai foram, inicialmente, estátuas rígidas de corpos hirtos e
algo esquematizados com rostos simétricos esboçando meios-sorrisos e cabelos e
barbas simplificados. Gradualmente, foram adquirindo mais flexibilidade,
movimento e expressão fácil.
O relevo enquadrava-se na
arquitectura, onde ocupava lugares próprios a ele destinados pelas “ordens” :
na ordem dórica distribui-se pelas métopas e tímpanos dos frontões, enquanto
que na ordem jónica, para além dos tímpanos, é aplicado nos frisos contínuos.
O relevo possuiu, desde este período, duas funções essenciais: a de
“contar uma história mágica” , geralmente a que comemora o acto que justifica a
edificação do templo; e uma outra, mais prática, que é a de preencher e decorar
o espaço arquitectónico, sujeitando-se às suas formas e dimensões.
Os relevos arcaicos foram feitos em terracota e pintados com cores
vibrantes [33]. Só na passagem para
a época clássica passaram a ser executados em mármore.
Estética e estilisticamente, os relevos possuem características
idênticas às da estatuária, tendo as figuras uma anatomia esquemática e
movimentos algo rígidos. Os rostos são orientalizantes, com olhos oblíquos,
maçãs salientes e os caracóis dos cabelos geometrizados.
Do estilo severo
aos primeiros clássicos
A transição para a época clássica fez-se no primeiro quartel do século V
a. C., com duas obras realizadas em bronze: o Auriga de Delfos e Posídon.
Dotadas de maior pormenorização anatómica e rigor técnico, mas também de grande
monumentalidade e rigidez expressiva, estas duas obras caracterizam o chamado estilo severo.
Contudo, foi no século V a.C. – época
clássica – que aescultura atingiu o auge da beleza e da perfeição, quer pela concepção plena da forma, imitada
da Natureza.
A imitação da Natureza (isto é, da forma real, visível) não se fez,
todavia, com base na cópia exacta dos exemplos fornecidos por esta, mas partiu
de uma selecção que representasse os modelos ideais, as formas mais perfeitas.
Essa selecção, que aliou a observação do real a rigorosos estudos de
anatomia e de geometria, culminou no estabelecimento dos cânones, conjunto de regras de proporção métrica entre as
diferentes partes do corpo humano, de modo a obter um todo harmonioso e
perfeito – uma beleza ideal, nascida da reflexão e da racionalização.
O primeiro cânone surgiu com
o escultor ateniense Policletoque
redigiu as conclusões da sua pesquisar formal num Manuel de escultura a que deu
justamente o título de Cânone. A obra O doríforo foi a primeira onde o
concretizou e com tanto sucesso que as suas regras foram seguidas por outros
escultores por mais de um século.
Desde modo, ao realismo técnico
aliou-se o idealismo racional das formas,
características patentes, por exemplo, em Míron
e na sua obra O Discóbolo, onde ao dinamismo das formas anatómicas se associou
o idealismo do rosto do atleta (já perdido no original) que, em esforço de
concentração, se apresenta sereno, calmo e imperturbável .
Mais foi com Fídias – o
artista mais genial de todo o século V a.C – que a escultura grega atingiu a
absoluta perfeição. Foi este o autor dos relevos do Parténon, nomeadamente os
de A Procissão das Panateneias, e são
estes relevos, juntamente com os do
Templo de Atena Niké [ver Caso Prático I] e com algumas, poucas, peças de
estatuária, que testemunham o génio escultórico do povo grego, pois a maioria
das obras de escultura que conhecemos hoje deste período é construída por
cópias helenísticas e romanas.
Nas obras de Fídias ressaltam a perfeição anatómica, a robustez e a
serenidade, a força e a majestade que atribuíram à escultura clássica grega o
carácter idealista e divinizado que hoje lhe reconhecemos e que definimos,
muitas vezes, pela expressão “calma olímpica”.
Da 2.ª idade
clássica à escultura helenística
No século IV a. C., a escultura grega conheceu novos desenvolvimentos
que contrariam a grandeza severa e impessoal do século V. Relevos e estátuas
tornam-se mais naturalistas e expressivos, trabalhados ao estilo de cada autor;
aparece igualmente o no feminino, nunca até aí inteiramente revelado. Assim, a
escultura adquiriu um carácter mais sensível e sensual, mais gracioso e
sedutor.
Exemplos destas alterações encontram-se no trabalho do escultor Scopas, cujas obras exibem uma poderosa
expressividade pela tensão dos corpos, em movimento contorsionado, e pelos
rostos .
Praxíteles, outro artista
deste período, executou corpos esbeltos e efeminados, como o do seu Hermes, e foi o primeiro a assumir a
nudez feminina na estatuária.
Lísipo, por seu turno,
estabeleceu um novo cânone cujas proporções criaram um tipo de atleta mais
esbelto e delgado, concretizado em Apoxiomeno; coube-lhe, também, introduzir na
escultura a verdadeira noção de vulto redondo, assumindo a multifacialidade do
observador face às suas obras .
Nos séculos III, II e I a. C., o período
helenístico, a escultura grega fez uma nova evolução. O “realismo
idealista” do século V fora substituindo, no século IV, pelo naturalismo que
foi progressivamente evoluindo, neste período, para um “realismo expressivo”, dramático e livre, de efeito teatral. O
sofrimento e as paixões apoderam-se dos corpos e dos rostos; os grupos
escultóricos, susceptíveis de composições mais dinâmicas, são preferidos às
estátuas individuais; mesmo as figuras isoladas parecem ter sido extraídas de
uma narrativa, como no caso de O Gaulês Moribundo ou do grupo Laocoonte.
Esta estética – movimentada, expressiva e teatral – é igualmente
adoptada pelos relevos, como é evidente no caso do Altar de Zeus, de Pérgamo.
A par das representações monumentais, desenvolve-se neste período o
gosto pelo retrato e pelas cenas do género, retiradas do
quotidiano. Em ambos, o realismo foi tão expressivo que chegou a dar ênfase às
deformidades físicas e às representações da infância e da velhice.
Já em pleno período romano, tornaram-se populares as estatuetas de Tanagra, pequenas
figurinhas de barro policromado, cópias de originais clássicos, inspiradas em
cenas pitorescas do quotidiano ou da religião. Constituíram uma requintada arte de salão, destinada ao consumo
privado das elites, o que mostra a complexidade e erudição do estilo de vida
das sociedades helenísticas.
A cerâmica e a pintura
A cerâmica, pela sua decoração – sobretudo a partir da fase
arcaica recente, em que as figuras negras eram pintadas sobre fundo claro, e do
estilo clássico, de figuras claras sobre fundo negro -, com relatos de cenas
míticas, representação de reis e atletas, de cenas do quotidiano, etc.,
constitui um repositório fidedigno de imagens da arte e da cultura gregas. Na
falta de outros documentos históricos, como o da pintura mural que desapareceu
quase toda, é à cerâmica que vamos colher as informações necessárias para o
entendimento da cultura, da civilização e da plástica gregas.
De entre o artesanato artístico
deixado pelos Gregos, a cerâmica toma um lugar de destaque. Mercadoria de
primeira necessidade pois servia para múltiplos usos, a cerâmica teve grande
produção , proliferando em inúmeras oficinas que geraram estilos regionais
ainda hoje reconhecíveis. Entre os que é possível referenciar (o da Beócia, o
das Cíclades, o de Creta, o de Rodes...), destacam-se o coríntio e o ático,
onde sobressaem as oficinas atenienses, detentoras das peças mais
significativas e variadas, bem como dos autores de maior qualidade. A sua
superioridade é comprovada pela grande procura dos seus produtos em todo o
mundo antigo. Levada pelos mercadores (Gregos, Fenícios ou outros), a cerâmica
espalhou-se por todo o Mediterrâneo, mesmo fora do mundo helénico, sendo
possível encontrar-lhe vestígios na Peninsula Iberica, na Itália, na Galia, na
Germânia, no Egipto, na Síria, na Mesopotâmia e até nas areas mais remotas do
Império Persa.
A perfeição alcançada mede-se
quer pela qualidade técnica evidenciada (tipo de pastas, cozeduras e engobos
utilizados), quer pela simplicidade, elegância e funcionalidade das formas
produzidas. Estas obedecem a rigorosas pesquisas formais que, aliando forma e
função, procuraram satisfazer as necessidades práticas para que as peças eram
criadas: serviço doméstico, usos artesanais e comerciais, apoio às cerimónias e
aos rituais fúnebres. As tipologias conhecidas encontram-se definidas desde os
séculos VIII e VII a.C. (período
arcaico) e foram norteadas por concepções estéticas e estruturais que tinham
por base a geometria. Nos períodos seguintes, a variação formal registou apenas
alterações de tamanho e de proporção entre as diferentes partes do vaso: o pé
ou base, o corpo ou bojo, o colarinho ou gargalo, a boca ou abertura, as asas
ou alças. Mais longa é a história dos seus estilos decorativos. O seu estudo é,
entre o de todas as outras artes helénicas, aquele que melhor permite conhecer
a evolução da plástica grega, dado o quase total desaparecimento da grande
pintura mural e a escassez de originais na escultura. É, também, aquele que
melhor acompanha e documenta a evolução social, cultural e política da História
da Grécia.
Na evolução plástica da
cerâmica grega os especialistas distinguem os seguintes estilos:
O estilo geométrico, situado entre os séculos IX e VIII a.C.,
filia-se ainda na grande tradição dos vasos creto-micénicos, distinguindo-se
artisticamente pela opção estrita dos motivos geométricos como base ornamental.
Esses motivos eram dispostos à roda do corpo dos vasos em bandas, ou frisos
paralelos e sobre-postos cobrindo-os quase até à abertura. Canda banda era
ornamentada a partir de motivos geométricos simples – O ponto, a linha, o
círculo -, organizados em combinações e variações criativas, algumas das quais
usadas desde o Neolítico: meandros, gregas, triângulos, losangos, linhas
quebradas ou contínuas, axadrezados... Estes motivos eram realçados a preto (
ou com um verniz castanho-ocre, muito brilhante) sobre o fundo de cor natural dos vasos.
O principio formal desta arte
geométrica, abstracta em si mesmo, baseava-se, sem dúvida, na experiência
técnico-artesanal (a rede de tecituras criada nos teares lembra o principio
organizativo dos meandros e das gregas), mas representava, também, um certo
sentimento intuitivo da estrutura geométrico-matemática patente na Natureza e
no Universo e base do pensamento e da filosofia gregos.
A partir de inícios do século
VIII, reintroduziram-se os elementos figurativos na decoração cerâmica, mas
estes apresentavam-se como meras silhuetas a negro, muito esquematizadas e
estilizadas, de onde se excluíram todos os pormenores secundários. Estes
elementos figurativos eram constituídos por animais compondo pequenos frisos
decorativos e por seres humanos, isolados ou organizados em cenas descritivas e
narrativas. Neste caso, os temas resumiam-se a batalhas e cerimónias fúnebres,
denominadas de prophesis (à letra, “deposição do cadáver”). Nos primeiros, as
personagens eram guerreiros apresentados em diversas posições de combate; nos
últimos, as cenas descrevem os cortejos fúnebres com soldados e carpideiras
seguindo o carro onde viaja o corpo do morto, exposto sobre a urna. A
uniformidade das cenas e das personagens impede-nos, hoje, de saber se se
tratava de relatos da vida real ou de episódios mitológicos de significado
sagrado.
Quanto às formas, a tendência
foi para o aumento progressivo do tamanho das peças, algumas das quais
atingiram proporções monumentais. Com efeito,
as ânforas e crateras da necrópole de Dipylon (junto ao Pireu) – As mais
famosas deste período – ultrapassaram, nalguns casos, um metro e meio de
altura. Estas grandes peças destinavam-se a ser colocadas nos cemitérios como
indicadores das sepulturas, à maneira de estelas ou monumentos funerários.
Continham óleos, unguentos sagrados e outras oferendas feitas aos mortos. Nos
finais do século VIII, culminando esta evolução, a arte geométrica entrou em
fase de desintegração.
O estilo arcaico situa-se entre o final do século VIII e o inicio do
século V a.C.
Sob o ponto de vista da
cerâmica artística, este período subdivide-se em duas fases evolutivas: a fase
orientalizante e a fase arcaica recente. fase orientalizante vai,
aproximadamente, até 650 a.C. A cerâmica deste período pelo pendor figurativo
que reflecte as influências decorativas orientais, provenientes dos contactos
comerciais e coloniais, traduzindo-se nos temas, na figuração e na expressão.
Os temas caracterizam-se pelo
regresso ao figurativo – nascido da necessidade de narrar, e representar já que
a variedade das realidades naturais e sociais vividas e presenciadas pelos
Gregos, neste período, a isso impelia – e pelo aparecimento das cenas de
carácter mitológico. figuração define-se
pela inclusão de animais míticos ou lendários e de figuras híbridas como
grifos, esfinges e górgonas; e pela representação de elementos decorativos de
inspiração vegetal e naturalista, como lótus e palmetas. Na expressão é dada a
preferência a figuras de grande tamanho ( que chegam a ocupar todo o bojo do
vaso) tratadas ainda em silhueta, mas onde se incluíam já, pela técnica da
incisão, pequenos traços realçados a branco ou vermelho que compunham
pormenores anatómicos ou de vestuário.
Estas características foram
particularmente marcantes na cerâmica denominada proto-ática, que abrangeu a
produção das oficinas da região ateniense na primeira metade do século VII a.C.
A fase arcaica recente abrange
os finais do século VII até cerca de 480 a.C.
Esta fase ficou marcada pelo
aparecimento, na Ática, da cerâmica decorada pela técnica das figuras pintadas
a negro. Trata-se de uma cerâmica elegante e sofisticada, fruto de uma técnica
elaborada, destinada ao comércio de luxo.
Sobre o fundo vermelho do barro
destacavam-se os elementos figurativos, representados como silhuetas
estilizadas à maneira antiga (rosto de perfil com olho de frente tronco de
frente, ancas a três quartos e pernas de perfil) e totalmente preenchidas a cor
negra. A técnica da incisão permitiu pormenorizar o interior das figuras, agora
enriquecidas com linhas de contorno dos músculos e outras partes do corpo, com
particularidades como a barba, o cabelo ou os padrões do vestuário.
O interesse pelos pormenores
anatómicos sugere, aqui e ali, a influência da plástica aplicada à escultura
deste período (estilo severo).
O
TEMPLO DE PARTENON
O Parténon é um templo dórico, periptero
(por ter colunas a toda a volta), com oito colunas nas fachadas mais estreitas
e dezassete nas laterais. Foi construído em mármore do Monte Pentélico
(usaram-se nele 22 mil toneladas) com as mais modernas e sofisticadas técnicas
conhecidas na época. A sua base, ou estereóbata, que tem três altos, mede 30,80
x 69,47 metros; e as colunas exteriores, que rodeiam toda a massa do edifício,
têm 10,43 metros de altura. É o maior e mais carismático dos templos gregos da
Antiguidade, para a glória da cidade que o construiu. Acima das colunas, de
elegantes capitéis geométricos, encontra-se o entablamento, cujo friso alterna
triglifos com métopas esculpidas. A rematar as fachadas mais estreitas, os
tímpanos dos frontôes, formados pelo telhado de duas águas, ostentavam, na sua
época, uma riquíssima decoração escultórica, pintada em cores vivas, tal como
os outros elementos construtivos – fustes, capitéis e entablamento.
No interior, a enorme cella (30m de
comprimento por quase 20 de largura), dividida em naves, abrigava, a meio da
nave central, a estátua de Atena Parteno, executada por Fídias em marfim e
ouro, O tecto, plano e de madeira, era trabalhado com relevos pintados a
dourado. A luz penetrava no templo pelas portas cerimoniais rendilhadas.
A decoração esculpida, de autoria da escola
de Fidias, relata-nos cenas mitológicas e a vida da deusa, entre as quais a do
seu nascimento, no frontão este.
Pelas suas proporções e pelo equilíbrio
formal e decorativo, o Parténon é o paradigma do pensamento arquitectónico
grego da época clássica.
O
TEMPLO DE ATENA NIKÉ
O templo de Atena Niké é um pequeno templo
de ordem jónica, construido em mármore pentélico sobre um embasamento de 8,26 x
5,64 metros. Só possui quatro colunas á frente e atrás, nas fachadas mais
estreitas e, por isso, diz-se anfi-próstilo. Devido ás suas reduzidas
dimensões, todo o espaço interno é ocupado com a cella, não possuindo
opsitódomus.
A decoração, de autoria de Agorácrito,
concentra-se nos elegantes capitéis de volutas enroladas, no friso contínuo
(com cerca de 30 metros de perimetro) e nos tímpanos dos frontões.
O friso contém, a leste, os deuses do
Olimpo que seguem as batalhas dos cavaleiros Gregos e Persas; nos outros lados,
estão representadas lutas entre hoplitas (soldados) gregos e persas.
Nos tímpanos dos frontões, a decoração
apresenta uma temática diferente: a dos gigantes, a este, e a das amazonas, a
oeste.
Por se encontrar junto a um precipicio,
este templo estava rodeado por uma balaustrada de 1,05m de altura, decorada por
uma série de vitórias aladas (nikái), em atitudes graciosas e de grande finura
de proporções, erguendo troféus e celebrando sacrifícios.
O vaso Pronomos é uma crátera de volutas de
grandes dimensões (75 cm de altura, 33,5 de diâmetro na parte mais larga),
encontrado em Ruvo di Puglia, na Magna Grécia, Itália, em 1839.
Estilisticamente, pertence ao “estilo” das
figuras vermelhas e foi executado numa oficina ática, por um artista conhecido
por “pintor de Pronomos”. A peça foi coberta a verniz preto, de onde ressaltam
os motivos decorativos na cor natural da argila ou a branco, com os pormenores
anotados a negro. A decoração concentra-se no gargalo, nas asas em forma de
volutas e no bojo. As duas primeiras contêm motivos naturalistas estilizados,
organizados em frisos separados por linhas ou faixas horizontais. O bojo recebe
uma rica decoração figurativa, organizada em dois registos paralelos. No
registo superior do lado A, vemos numerosas personagens que representam um
grupo de actores de teatro preparando-se para entrar em cena (alguns seguram na
mão as respectivas máscaras), perante o olhar dos deuses Dioniso e Ariadne, ao
centro, abraçados e ricamente vestidos. Dioniso segura com a mão direita o seu
bastião e está coroado de heras, como é seu atributo. Á esquerda do casal de
deuses, de joelhos, está o pequeno Himeros que estende as mãos em direcção á
máscara segura pela personagem á sua frente.
No registo inferior, ao centro, está a
figura do flautista Pronomos, um músico da Beócia que ganhou fama em Atenas no
século V a. C. (é esta personagem real que dá o nome ao vaso). Encontra-se
ricamente vestido e coroado de louros. À esquerda e á direita de Pronomos,
várias figuras que representam jovens coreutas (um deles mascarado de sátiro a
dançar) e músicos com os seus instrumentos.
No lado B, a composição é um pouco menos
densa, embora se distribua igualmente por dois registos. No superior, ao
centro, vemos de novo Dioniso e Ariadne, abraçados, caminhando. Ao lado de
Dionísio há um pequeno Eros flutuando. Em baixo, e da esquerda para a direita,
encontramos um coreuta-sátiro, ensaiando um passo de dança, uma pantera entre
duas Ménades e um sátiro nu.