![]() |
Rouen – Efeito Matinal . Claude Monet |
Na
década de 1890, terminada a experiência comum dos impressionistas, Monet
inaugura uma fase estilística com esta série de obras dedicadas à Catedral de
Rouen.
Convencido de que para fixar numa tela a essência dos temas teria de os
repetir muitas vezes, Monet trabalhou incansavelmente neste mesmo tema,
captando o objecto em questão – quer se tratasse de uma catedral, de uma meda
de feno ou de um grupo de choupos – em diferentes condições atmosféricas.
A
escolha da Catedral de Rouen não tem qualquer significado: Monet elegeu-a como
tema porque a superfície irregular da fachada gótica se presta muito bem à
pesquisa pictórica.
A catedral de Monet nada tem de narrativo; pelo contrário,
sob o pincel do artista, ela perde a sua própria corporeidade, transfigurando-se
em qualquer coisa de diferente e sugestivo.
O que foi representado não foi o
objecto mas os efeitos das luzes sobre a matéria que o compõe.
Foi exactamente
isto que marcou a distância entre as imagens de catedrais executadas por outros
pintores do tempo e a série de Monet: a consciência da impossibilidade de
reproduzir uma verdade objectiva.
Uma ideia de desconcertante modernidade, rica
de consequências para os futuros desenvolvimentos da história da arte.
![]() |
Claude Monet. 1840-1926 |
![]() |
A Catedral de Rouen com Tempo Nublado.
Claude Monet (1892)
|
Desenvolvendo e
aprofundando uma ideia tentada já anos antes com as obras dedicadas à Gare
Saint-Lazare, Monet pintou em série as telas da Catedral de Rouen.
Para
compreender a fundo o sentido destas obras, é necessário ver mais de um exemplo
em simultâneo. Só da comparação entre as diferentes versões emergem claramente
as razões da escolha de Monet.
A fachada
da catedral transfigura-se, muda sensivelmente consoante as condições climáticas
e as luzes que inundam a sua estrutura. Trata-se de uma visão subjectiva: a
representação de uma percepção, daquilo que os olhos do artista observam
naquele momento.
Monet restituiu à tela uma emoção, tangível graças à vibrante
qualidade da cor.
Passa dos azuis dos dias de sol aos castanhos dos dias de
chuva, da luz da manhã às sombras da noite, perseguindo sensações que mudam
rapidamente, como a pincelada que as captou.
A proximidade do ponto de vista
que o pintor escolheu impele a fachada para o espectador, que percebe a matéria
esculpida pela luz; e é justamente a luz que transforma a mole da catedral ou
numa renda levíssima ou num objecto de mármore peso.