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c. 1874 | Óleo sobre tela. | A. 0,53 x L. 0,717 m.
Proveniência: Michel
Monet, Giverny.
Adquirido
a Paul Rosenberg, Paris, em Abril de 1937
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Pierre-Auguste Renoir (1841-1919)
Provavelmente executado em 1874, este retracto data de uma época em que
Renoir frequentemente visitou Claude Monet e a mulher, em Argenteuil. A
colaboração entre os dois artistas foi de todos os pontos de vista notável no
início da década de setenta, podendo mesmo afirmar-se que o trabalho conjunto
de ambos, maioritariamente dedicado à paisagem, no sentido do desenvolvimento
de um novo estilo, em muito contribuiu para o nascimento do fenómeno
impressionista. A amizade recíproca permaneceria intacta até à morte de
Pierre-Auguste Renoir, em 1919.
Modelo de Monet, Renoir e também de Manet, a figura frágil de Camille
faz parte do princípio da história do movimento impressionista. Se
estabelecermos uma comparação com Mediação.
Madame Monet sentada num canapé (Museu d´Orsay) do primeiro, realizado três
anos antes, rapidamente nos apercebemos da seriedade de atitude associada à
imagem da mulher do pintor. Mais espontânea, a presença de Camille é aqui entendida
com maior à vontade, transformando-a Renoir numa projecção da sua sensação, ou
seja, a de uma mulher realmente bela. Como Barbara E. White afirmou, no caso
inicialmente citado a figura aparece objectivamente (fotograficamente)
representada, enquanto no presente exemplo a percepção do modelo se efectua de
forma subjectiva. Relacionado com esta pintura é conhecido o estudo
preparatório Retracto de Madame Monet (The
Lefevre Gallery, londres), cuja representação se limita a uma cabeça esboçada a
três quartos. De cerca de 1873, e ao contrário da extensão diagonal em que a
figura é aqui posicionada, possui o Sterling and Francine Clark Art Institute a
composição de configuração vertical intitulada Madame Monet lendo, na qual Camille aparece com o mesmo traje usado
por ocasião da feitura desta tela.
É precisamente pela frescura com
que Renoir trata a cena de interior – através de uma vibração difusa da luz,
por hábito adoptada pelos impressionistas na pintura de ar livre -, que o
artista confere uma qualidade original a esta obra plenamente reconhecida. A
pincelada longa – a influência de Monet -, clara e ritmada, corresponde à
intenção de dissolver na atmosfera íntima a leveza de formas que se afirmam
pela ausência de verdadeira substância. Correspondendo a uma estética sensual
da mulher, este retracto não pretende ser um estudo de carácter, antes se impõe
pela satisfação física que proporciona. Renoir centra-se na boca e nos olhos de
Camille, estabelecendo de imediato um jogo de visão instantânea. Os detalhes
esboçados em cores intensas – vermelhos, amarelos, tons carnais -, servem de
luminosidade. As referências (à vida contemporânea, ao japonismo em voga) ou
alusões (a Goya, a Manet) participam também na unidade de um conjunto em que a
imaginação é colocada ao serviço do impulso.
Arte que exprime a realidade
física de forma muito pessoal e simultaneamente serve um prazer imenso de
pintar, a obra de Pierre-Auguste Renoir equivale a um sentido único de entender
a beleza feminina, numa produção que o coloca certamente entre os grandes criadores
do seu tempo. Refina-se, finalmente, a propósito do quadro, que o mesmo foi
oferecido pelo artista à família Monet, tendo permanecido alguns anos no quarto
de Claude, em Giverny.