O delicado esboço de Rafael no leilão londrino |
Obra pertence a uma série de esboços preparatórios
da última pintura deste mestre do Renascimento, A Transfiguração, hoje nos museus
do Vaticano. Estava há séculos na colecção de desenhos do duque de Devonshire,
uma das melhores do mundo.
É um esboço da cabeça de
um apóstolo, com 38X28 centímetros e quase 500 anos. Na noite de quarta-feira,
em Londres, criou grande adrenalina na sala em que a leiloeira Sotheby’s levava
à praça parte da colecção da Chatsworth House, casa do duque de Devonshire. Bastaram
17 minutos de licitações intensas, segundo a BBC News, para que o desenho de
Rafael duplicasse as estimativas de venda.
Com este apóstolo que foi
arrematado por 36,5 milhões de euros, o artista da Renascença supera-se: em
2009, uma das suas cabeças de Medusa fora vendida por 36,1 milhões na leiloeira
concorrente, a Christie’s. O apóstolo vence a Medusa na corrida ao desenho mais
caro de sempre vendido em leilão.
“Se tivermos sorte, chega
uma altura na carreira em que uma obra destas aparece”, disse à BBC o
responsável da leiloeira pelos desenhos dos mestres da pintura antiga, Gregory
Rubinstein. “Houve um número razoável de alguns dos maiores coleccionadores do
mundo que deram a cara esta noite, em reconhecimento do génio de Rafael, da
beleza extraordinária deste desenho e da excelência da sua proveniência.”
O acervo de Chatsworth
inclui 3000 desenhos dos mestres antigos, como Rubens, Van Dyck e Rembrandt. A Cabeça
de Apóstolo (1519-1520) é (era) um dos 14 Rafael do duque. A Sotheby’s
garante que, nos últimos 50 anos, apareceram apenas dois desenhos desta
qualidade em leilões.
A colecção Devonshire, uma
das mais importantes do mundo no que diz respeito aos desenhos dos grandes
mestres, foi reunida, em grande parte, por William Cavendish (1672-1729), o segundo
duque. Em Inglaterra, segundo o diário espanhol El Mundo, só o
Museu Ashmolean de Oxford e o Museu Britânico têm mais desenhos de Rafael do
que Chatsworth House.
O duque diz que o dinheiro
desta venda vai agora ser investido “no futuro” da sua colecção.
O desenho de Rafael
(1483-1520) agora vendido – especula-se que para um coleccionador russo – é
particularmente simbólico porque se trata de um estudo feito para a sua última
pintura, A Transfiguração, que, aliás, deixou inacabada. Esta obra,
que hoje pertence aos museus do Vaticano, é considerada uma das mais
importantes do Renascimento. Era também ela que estava pendurada no estúdio do
pintor, quando o seu corpo ali foi velado. Rafael tinha apenas 37 anos.
“Este estudo comovente é
um exemplo excepcional da produção de Rafael e mostra porque é respeitado como,
provavelmente, o maior mestre do desenho de todos os tempos”, acrescentou
Gregory Rubinstein, da Sotheby’s, desta vez citado pelo El Mundo.
“A beleza deste trabalho é impressionante.”