O estilo gótico (1) | M4

Catedral de S.Denis. (França)
estilo gótico, conhecido como a Arte das Catedrais, desenvolveu-se na Europa, especialmente na França, durante a Idade Média, no florescer do Renascimento do Século XII – uma era de transformações políticas, sociais, culturais e económicas que ocorreu na Europa Ocidental. Este movimento vem se contrapor à severidade da escola anterior, a românica, desenvolvida principalmente em Portugal. A arte gótica vigora na Europa até a chegada do Renascimento Italiano, quando o classicismo romperá com esta linguagem artística.
Na arquitectura surgem os primeiros sinais do nascimento do estilo gótico, que se estende depois por todas as esferas estéticas. Na cultura arquitectónica tem grande peso a espiritualidade, que definirá seus rumos enquanto predominar esta prática. A França, neste período, passa por importantes mutações, tanto nos planos comercial e urbano, quanto na centralização política, sinalizando assim o princípio da crise no sistema feudal. Porém, mesmo neste contexto, a religião ainda sustenta uma grande força, apoiada principalmente nas Cruzadas.
No princípio este movimento é conhecido como Arte Francesa, sendo conhecido por estilo gótico quando se contrapõe aos valores renascentistas, ou seja, em seu declínio. Seu nascimento se dá exactamente durante a reconstrução da Abadia Real de Saint-Denis, entre 1137 e 1144, nos arredores de Paris. Na edificação deste convento já se encontram sinais da exaltação da realeza e do louvor da religião, visando atrair mais crentes para a Igreja. Sua cabeceira é copiada das que existem nas igrejas de peregrinação – com abside, deambulatório e capelas radiantes. A arquitectura passa por um grande avanço neste momento, colaborando com a criação de abóbadas de nervuras, sustentadas por contrafortes externos, liberando assim o interior das igrejas, garantindo-lhes assim uma leveza maior.
A construção de grandiosas igrejas, neste período, sofreu uma grande influência da Escolástica, escola filosófico-religiosa que propiciou um desenvolvimento mais racional da Ciência e estabeleceu Deus como um ser supremo. As paredes cumpriam o papel de base espiritual, enquanto os pilares simbolizavam os santos. Os arcos e as nervuras eram os caminhos que conduziam a Deus. 


Os vitrais pintados e decorados instruíam o povo, com suas cores, histórias e narrativas extraídas da Bíblia. As construções góticas foram verticalizadas e de certa maneira desmaterializadas, e havia um intenso cuidado com a distribuição da luz no espaço. Houve duas novidades no campo da arquitectura que contribuíram para isso – o arco construído em ponta e a abóbada cruzada, que propiciou recobrir espaços quadrados, curvos ou irregulares. Mas a maior inovação deste estilo foi o arco de ogiva.
Encontra-se a escultura gótica nas fachadas, nos tímpanos e portais das catedrais. Ela aparece como elemento independente na Catedral de Chartres, embora continue ligada à Igreja. Complementar à arquitectura, era produzida independentemente e depois inserida no interior da igreja. Ela buscava expressar o ideal divino, através de formas naturalistas. No início, as estátuas eram desprovidas de movimento, predominava a verticalidade, o que causava uma sensação de invisibilidade. A frontalidade está ausente dessas obras, o que a diferencia das escolas anteriores, e com o tempo elas assumem a ideia de movimento. Surgem as primeiras imagens de diálogos nos portais.
A pintura tinha o objectivo de tocar as emoções de seus observadores ao retractar cenas que transmitem leveza e pureza espiritual, com cores claras e toques naturalistas e simbolistas. A luz iconográfica foi substituída pelos fundos dourados, técnica aplicada também na pintura mural, nos retábulos e nas iluminuras dos livros. Presente inicialmente nos vitrais das catedrais, a pintura adaptou-se à inevitabilidade das narrativas educativas do interior das igrejas. Após o apogeu desta modalidade, as iluminuras retornam ao palco principal da pintura.

arquitectura
arquitectura gótica é uma forma de expressão que se situa, historicamente, entre a arquitectura românica – vigente no continente europeu no século X – e a arquitectura renascentista  – responsável por uma significativa ruptura na história da arte de projectar e construir edifícios.


Catedral de Chartres, construída em 1145 em Paris, França.
Esta modalidade arquitectónica evoluiu no solo francês durante o período conhecido como Idade Média; no início era denominada ‘obra francesa’. A expressão ‘gótico’ surgiu apenas no fim do Renascimento, com uma conotação pejorativa. O núcleo central deste estilo, que nasceu no final do século XII, e depois se disseminou pela Europa Ocidental, vigorando até o século XV no território italiano, é o arco de ogiva, embora ele também esteja presente em outras Arquitecturas.
Este elemento predomina especialmente nas regiões mais intensamente influenciadas pelos mouros. Assim, ele pode ser encontrado na catedral românica de Montreal, no românico espanhol e até no estilo provençal. Em algumas outras obras deste período, porém, ele é substituído pelo arco de volta completa, como na Catedral de Chartres. Assim, ele não é tão determinante do Gótico.
Em meados do século X, a Europa se encontrava em um estado crítico, e a autoridade do rei era questionada. O continente então se reorganiza socialmente e nasce o sistema feudal. A França, como outras regiões, via-se na iminência de ser invadida; neste contexto, a população se escondeu nas suas raras e frágeis fortalezas.
Ao longo desta era foram produzidas esculturas, pinturas e outras expressões artísticas que retractavam o pavor das pessoas, que intuíam as guerras, a fome, e outras tantas catástrofes previstas pela Igreja. Alguns séculos mais tarde, com as profecias frustradas, a ocorrência das Cruzadas e a decadência do Feudalismo, surge o então chamado Estilo Francês, que logo se irradia por toda a porção da Europa Medieval.
A primeira obra francesa no estilo gótico é a Basílica de Saint-Denis, situada na Ile-de-France, actualmente Paris, a capital da França. Com a volta dos reis ao poder, o povo, em festa, dirige-se às igrejas e catedrais. Os arquitectos optavam então por ambientes repletos de luzes, ausentes na Arquitectura Românica, mas bem presentes no gótico.
Esta concepção arquitectónica apresenta abóbadas amplas e altas, sustentadas por pilastras ou colunas. Elementos denominados arcobotantes e contrafortes eram responsáveis pela manutenção do equilíbrio da construção, procurando compensar o peso desmedido das abóbadas. Vitrais e rosáceas tomam o lugar de densas paredes. Estes aspectos constituem as características principais de uma arquitectura considerada pura.

Esta arquitectura é hoje considerada Património Mundial da UNESCO, e pode ser contemplada em catedrais como a de Notre-Dame, Chartres, Colónia e Amiens, em toda sua glória e realeza, verticais no seu diálogo com o sagrado.

Abadia de Saint-Denis: onde tudo começou.
A Abadia de Saint-Denis é considerado o primeiro monumento de arquitectura gótica. Foi aqui que começou uma dos mais fantásticos períodos estéticos de toda a história e que é facilmente posto ao lado da Arte Romana, por exemplo, em grau de importância e não só.
Trata-se de um edifício quase totalmente reconstruído entre 1137 a 1144 a mando do abade Sugger. O seu objectivo era que o "seu" edifício superasse os outros, não em dimensões ou imponência mas em expressão de religiosidade e patriotismo francês.

A Catedral de S.Denis como foi inicialmente projectada
Foi aqui que foi aplicado pela 1ª vez o esquema de portal gótico, mas é na cabeceira com duplo deambulatório com 7 capelas radiais e vitrais e arcos ogivais criando uma fina e discreta estrutura que está de facto presente um AMBIENTE puramente gótico. O ideal estético do abade Sugger espalhou-se por toda a Europa e na altura esta abadia de São-Diniz era um dos mais importantes edifícios religiosos da Europa.


Infelizmente as alterações efectuadas em 1231 pelo arquitecto Pierre de Montreuil adulteraram o projecto do abade, mas todo o andar térreo da igreja é o original incluindo o duplo-deambulatório e o triplo portal.
Atenção que o uso do arco ogival não é originário do gótico. A forma como se uso e a sua adaptação a variadíssimos suportes forma inovadores.